Para além de escritor, Jorge Reis-Sá é editor. Longe de ser um desconhecido para os apreciadores de literatura e de poesia, em particular, o homem forte da Quasi pensa que, se é difícil publicar um primeiro livro, isso “tem muito a ver com a própria qualidade dos textos”. O JPN falou com dois jovens autores, um editor e dois autores consagrados para compreender como é publicar o primeiro livro.

O editor refere que “há muita gente a escrever e pouca gente a ler. As pessoas escrevem, escrevem mas não lêem o que os outros publicam”. Aceita a ideia de que “um editor tem que apostar em nomes se quer vender livros” e acrescenta que publicou o “weblog” de Rita Ferro Rodrigues por ele ser da autoria da jornalista. Reis-Sá diz que acredita “no ‘blog’ da Rita enquanto texto literário”, mas admite que “se se tratasse do ‘blog’ do ‘Josezinho’, é claro que não editaria”.

Quem não concorda com esta postura é Inês Bernardo, 22 anos, também ela autora de um weblog, mas, acima de tudo, escritora, poeta à espera de uma primeira oportunidade. Enviou o seu livro de poemas e prosa poética para cerca de vinte editoras. Recebeu de todas mais ou menos a mesma resposta: “Muito obrigado, gostamos muito do seu trabalho mas não temos espaço para o publicar”. Inês acusa as editoras de “arriscar pouco”. Diz que em Portugal se procura muito, “mesmo nas escolas, saber o que é que o poeta poderá querer dizer e não o que o poema faz sentir. Isso também acontece com os editores”. Inês gostava de receber, das pessoas a quem envia o seu trabalho, algo mais do que “frases feitas”. “Seria bom que se expressasse, apesar de tudo, uma opinião acerca do que se leu”.

O caso de Tiago Ferreira é ligeiramente diferente. O jovem autor conseguiu já publicar um primeiro livro de poemas, “…E a chorar disse que não”, há cerca de um ano, pela editora Corpos. Nunca tinha tentado publicar antes. Mesmo quando viu um anúncio a pedir poemas e enviou alguns dos seus, não pensou que o objectivo fosse editar. Tiago acusa as editoras de funcionarem “um bocado por capricho”. O jovem poeta acrescenta que “há um sistema incorporado de autores implantados que fecha muito os horizontes a quem quer começar”. “Talvez tenhamos chegado a um ponto em que quem lê é quem escreve e andamos aqui as voltinhas. Tornamo-nos arrogantes”, acrescenta.

Em relação à editora que aceitou publicá-lo, Tiago Ferreira admite que “publicam tudo”. “Na Corpos, eles tentam distanciar-se daquilo que é o ‘mainstream’, mas acabam por ter um sistema exactamente igual.” Apesar de, neste momento, não se sentir inspirado, Tiago promete continuar a tentar publicar mais livros.

Segundo Manuel António Pina, reconhecido escritor português, diz que nunca teve dificuldades para publicar. Segundo o poeta, “os grandes problemas com os jovens autores são a distribuição e a recepção, mais do que a edição”. É com pena que Pina refere que “existem poucos suplementos literários e as secções de cultura estão entaladas entre desporto, crime e política”, acrescentando que “os critérios jornalísticos tendem a valorizar o que já é conhecido”. Manuel António Pina acrescenta, a título de curiosidade, que, “na FNAC, por exemplo, as editoras pagam para ter os seus livros expostos”. “Em termos de distribuição, um novo autor tem um poder de negociação pequeno”, reconhece.

O caso americano

Richard Zimler é um luso-americano que dá aulas no curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, mas é, principalmente, um dos mais conceituados escritores da actualidade. O JPN pediu ao autor de “O Último Cabalista de Lisboa” que comparasse as dificuldades de publicação de um primeiro livro em Portugal e nos Estados Unidos da América, sua terra natal. Zimler considera que, “apesar de tudo, em Portugal é mais fácil do que nos EUA”.

O escritor refere o facto dos livros passarem primeiro por um agente literário antes de chegarem a uma editora, o que cria “um nível acrescido de dificuldade”. Na América, “não é normal um autor enviar um livro directamente para a editora, primeiro tenta arranjar um agente”. Zimler, que foi publicado primeiro em Portugal e só depois nos EUA, diz que “mesmo que o jovem autor consiga publicar, depois ainda tem que tentar obter publicidade, o que é muito difícil”.

Alternativas

Manuel António Pina refere que “hoje em dia, com um computador e uma impressora, faz-se um livro”, ou seja, as novas tecnologias podem gerar alternativas à publicação tradicional. Fruto do mesmo avanço, os “weblogs” são uma moda que, embora não tão implantada como se esperava, constituem uma montra para divulgar autores desconhecidos. E não só. Como já foi referido, o “blog” de Rita Ferro Rodrigues foi publicado pela Quasi.

Outra hipótese que Tiago Ferreira não descarta é a da participação numa antologia para divulgar novos poetas, argumentando que, muitas vezes, “se anunciam antologias de novos autores portugueses e depois só lá está gente absolutamente estabelecida como o José Luís Peixoto, por exemplo”. Inês Bernardo, por seu lado, não nega que já pensou na edição de autor como solução.

Carlos Luís Ramalhão