O ex-chefe dos inspectores da ONU no Iraque, Hans Blix, criticou ontem, segunda-feira, o governo norte-americano por alegadamente não respeitarem o Tratado de Não-Proliferação (TNP) de armas de destruição massiva. A acusação parte do facto de a Administração de George W. Bush construir uma nova geração de bombas nucleares para explosões no subsolo, as “bunker buster” ou “destruidoras de bunkers”.

Blix acusou ainda os EUA de serem os principais responsáveis pelo desenvolvimento de arsenais nucleares por parte de países como a Coreia do Norte e o Irão, apontando o dedo ao recém nomeado embaixador dos Estados Unidos na ONU, John Bolton, quando afirmou que “não existem tratados internacionais vinculativos”. “Para quê preocupar-se com a Coreia do Norte, se os tratados internacionais não são obrigatórios?”, interrogou Blix numa conferência de imprensa organizada pelo Instituto de Segurança Global, no qual interveio na qualidade de presidente da Comissão Internacional de Armas de Destruição Massiva. “Não podemos pedir ao resto do mundo que desista das suas ambições nucleares, enquanto nós as intensificamos”, justificou.

Apesar de tudo o ex-presidente da Comissão da ONU para a Vigilância, Verificação e Inspecção das Armas no Iraque procurou não minimizar a ameaça que estes países representam e defende soluções para o seu desarmamento nuclear, que passam pela garantia de segurança e o abandono da política de ameaças por parte dos Estados Unidos.

Blix recordou que Teerão é um dos percursores para a criação de uma Zona Livre de Armas Nucleares no Médio Oriente, apesar de esta ideia não ser “factível”, tendo aconselhado o Irão a abandonar as aspirações de adquirir armas nucleares. No caso da Coreia do Norte, o ex-inspector da ONU no Iraque explicou que a solução para o desarmamento passará pela assistência económica internacional, para além de outros incentivos.

Um crítico de Bush

Hans Blix tornu-se um grande crítico da Administração Bush após a sua missão de investigação no Iraque antes da invasão norte-americana. O ex-inspector havia revelado que os principais motivos para a invasão do país do Médio Oriente foram a necessidade de “garantir o controlo do petróleo para o caso de a concorrência no mercado mundial se tornar demasiado dura” e de deslocar as tropas norte-americanas que se encontravam, na altura, estacionadas na Arábia Saudita.

Entretanto, as cinco potências atómicas oficiais (EUA, Rùssia, China, Grã-Bretanha e França) asseguraram que vão reduzir e posteriormente eliminar o seu arsenal nuclear, não tendo, no entanto, revelado datas, nem quais os passos que planeiam dar.

Daniel Brandão
Foto: Reuters