“Em pleno século XXI, já não faz sentido ter formação de base em ciências da comunicação”. A afirmação de Salvato Trigo foi ouvida com alguma inquietação, por parte de uma plateia maioritariamente de estudantes de jornalismo. O reitor da Universidade Fernando Pessoa explicou que “o mundo se tornou demasiado complexo e é necessário abordar estas questões de um ponto de vista completo”.

Assim, depois de uma “formação específica em qualquer área, como Belas Artes, Economia, Engenharia, Direito, História ou Filosofia”, dever-se-ia partir para “um segundo ciclo de formação na área do jornalismo”. No debate que se seguiu, Salvato Trigo precisou que não exclui, no entanto, uma formação de primeiro ciclo na área das ciências da comunicação.

Numa época que, segundo Salvato Trigo, “não se respeita a ética social, mas a ética comercial”, “a comunicação social e o jornalismo não têm necessariamente de estar ligados às empresas de empregabilidade, mas são importantes para criar cidadãos conscientes”. E disse porquê: “A questão da empregabilidade no contexto de Bolonha não tem a ver com o curso que se tira e a empregabilidade nessa área. A relação entre curso e emprego não são relações estreitas”.

Optimização de recursos

O mote para o primeiro debate moderado das Jornadas em LJCC era “O ensino e investigação nas Ciências da Comunicação em Portugal”. Para além de Salvato Trigo, na mesa estiveram Isabel Ferin, da Universidade de Coimbra e Anabela Carvalho da Universidade do Minho.

Anabela Carvalho defendeu a importância da inclusão de ciências sociais e humanas no ensino da comunicação social. Já Isabel Ferin chamou a atenção para a “necessária aposta em se criarem instituições de excelência.”. “Num país pequeno, é um contra-senso a existência de 50 cursos de comunicação social. Há que apostar na optimização de recursos, criando nichos de mercado”.

“O tempo do jornalismo romântico já acabou”

Salvato Trigo considera que “, como diria La Palisse, o jornalismo deve ser de factos e de verdades”, mas ressalva que hoje “o jornal é um negócio e o jornalismo é uma actividade científica”.

“O jornalismo romântico já terminou, hoje são figuras de museu. Cada vez mais se olha a actividade jornalística como espectacularização, indústria do espectáculo”, acrescentou o reitor da Fernando Pessoa.

O ensino do jornalismo deverá primar, então, “não só pela formação nas humanidades, mas também nas tecnologias, permitindo maturidade cívica para descodificar um discurso”.

Letícia Amorim
Foto: Joana Beleza