Definitivamente, “Jesus está na moda”. Esta é a convicção do padre José Tolentino Mendonça, manifestada ontem, segunda-feira, à noite, durante uma conferência no Café Literário da Feira do Livro do Porto.

O autor do livro “A construção de Jesus” fez referência ao sucesso recente de alguns livros e de filmes relacionados com o misticismo e com a religião, dando como exemplos o “Código Da Vinci” de Dan Brown e “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson, para justificar a sua tese. Para este estudioso da Bíblia, “o facto de Jesus estar na moda é uma óptima oportunidade para reflectir sobre a nossa cultura e a nossa história, tão ligada ao cristianismo”.

José Tolentino Mendonça analisa este fenómeno como uma “tentativa de tornar Jesus Cristo normal”, e como uma busca de o tornar “’light’, através de best-sellers ligados à religião”, o que, apesar de contribuir para “uma quebra de complexos e de preconceitos”, poderá conduzir a uma “dessubtanciação da figura de Jesus, falando mais da forma que do conteúdo”. Além disso, “o romanesco subsituiu-se ao quadro histórico dos referentes, pelo que já não se consegue distinguir o que é ficção do que é realidade”, alerta o padre.

“Dan Brown aproveitou-se da necessidade do sagrado das pessoas”

No nosso país, tal como noutros países, “O Código da Vinci” vendeu milhares de exemplares. Como é que se justifica uma procura tão grande deste tipo de publicações? Terá a ver com o contexto político e económico mundial, em que o fundamentalismo religioso se apresenta como a maior ameaça?

Helena Barbas, professora do Departamento de Estudos Portugueses da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, diz que “estas figuras normalmente ressuscitam em épocas de grande crise”. Daí a necessidade de “regresso aos valores morais da Igreja Católica, que apelam ao bem e à ordem”.

No entanto, Helena Barbas considera que “houve oportunistas a alimentar a questão”, e um deles foi precisamente o escritor Dan Brown que, para esta professora universitária, “aproveitou-se da necessidade do sagrado das pessoas”, para “entrar na Europa”, um “mercado que exerce grande fascínio sobre os escritores americanos”.

A professora da Universidade Nova de Lisboa critica ainda o facto do autor afirmar, logo no início do livro, que “tudo aquilo é verdade, quando de facto não o é”. No entanto, considera que “a receita do livro funciona e tem os truques todos para prender o leitor”.

Anabela Couto
Foto: João Pedro Barros