É a última actuação ao vivo. A garantia tem sido reiterada, em diversas entrevistas, pelos próprios Humanos, ainda que o disco (editado em Dezembro de 2004), homónimo, tenha alcançado um notável sucesso comercial, ultrapassando a fasquia das 60 mil cópias comercializadas (tripla platina), sendo já um dos álbuns mais vendidos este ano em Portugal.

De novo em palco, e pela terceira vez (nos dias 28 e 29 de Junho tocaram no Coliseu dos Recreios, em Lisboa), o grupo recria, agora no Coliseu do Porto, algum do repertório inédito legado por António Variações, ícone da pop portuguesa do início da década de 80.

“Maria Albertina”, que nos colocou perante um fadista – Camané – com dotes vocais válidos para a interpretação de temas pop, “Muda de vida” ou “A culpa é da vontade” são alguns dos êxitos garantidos para a noite de hoje, segunda-feira, reinventados pelas mãos dos Humanos a partir do espólio original de Variações, falecido há 20 anos.

O projecto inclui sete músicos. Manuela Azevedo (vocalista dos Clã), David Fonseca (ex-Silence 4) e o fadista Camané são os intérpretes, e fazem-se acompanhar por Hélder Gonçalves (Clã), Nuno Rafael (ex-Despe & Siga, director musical de Sérgio Godinho), João Cardoso e Sérgio Nascimento (ambos ex-Despe & Siga).

A história

Ao todo, são 43 cassetes banalíssimas, todas com a inscrição da mesma marca – BASF. Há dez anos, Jaime Ribeiro, irmão de Variações, entregou-as, dentro de uma caixa de sapatos, à EMI – Valentim de Carvalho, editora com a qual o músico assinara contrato em 1977.

Seriam cassetes normais se não contivessem o registo de canções e esboços jamais editados de António Variações, homem que, sem qualquer educação musical, acabou por criar músicas que vieram a tornar-se símbolos de uma época (provavelmente, apenas as gerações mais novas não se lembrarão de “O Corpo é que Paga” ou “É p’ra Amanhã”, êxitos dos primeiros anos da década de 80).

O tema “Povo que Lavas no Rio” (1982) é o primeiro trabalho gravado por Variações, autodidacta recorrentemente recordado como uma “força da natureza” que “fazia música a partir do nada”.

O mérito maior do projecto Humanos será, porventura, o de terem conseguido fazer a transposição para os nossos dias de canções escritas há mais de 20 anos, dotando-as de um som actual sem, contudo, lhes retirar a musicalidade original.

Entre cavaquinhos, violas braguesas, bombos tradicionais, acordeão e ferrinhos, o processo de reconstrução dos temas alcançou, com êxito, a síntese entre a música tradicional e a pop contemporânea – fusão que tornou Variações célebre. Para ouvir logo à noite, a partir das 22h00, no último de três concertos únicos dos Humanos.

Concertos em CD e DVD

Os espectáculos ao vivo serão compilados em edição CD e DVD (que, além de imagens dos concertos, incluirá entrevistas e depoimentos acerca do projecto). A realização do DVD é coordenada por Nuno Galopim, jornalista do “Diário de Notícias” responsável pela catalogação dos inéditos que se encontravam em depósito na EMI-VC há uma década.

Ana Correia Costa
Foto: EMI