A crise de fome no Níger está a atingir níveis dramáticos. O alerta parte das Nações Unidas, que apela à entrega urgente de donativos. Naquele país do norte de África, cerca de 150 mil crianças morrerão em breve, sendo que 2,5 mil delas vão mesmo morrer por falta de alimento, adiantou o director do Centro de Coordenação Humanitária das Nações Unidas (OCHA), Jan Egeland.

“Estamos a atravessar uma profunda crise humanitária no Níger. Crianças estão a morrer enquanto falamos”, sublinha o responsável, que acusa a comunidade internacional de estar a negligenciar a situação. “O Níger é um exemplo de negligência ao nível da ajuda humanitária, pois os primeiros avisos foram ignorados”, denuncia Jan Egeland à BBC.

A curto prazo, o OCHA está autorizado a dispor de 50 mil dólares para ajuda, mas a título de empréstimo. Ou seja, o dinheiro terá de ser devolvido. A ONU adverte que a verba é insuficiente e apela à necessidade de se criar um depósito de dinheiro a fundo perdido para fazer face a situações de emergência idênticas. “Precisamos de um fundo de emergência para enfrentar casos menos previsíveis”, afirma Jan Egeland.

Os números da fome

No Níger, cerca de 3,6 milhões de pessoas estão a passar fome, das quais 800 mil crianças encontram-se subnutridas.

A seca extrema é a causa mais apontada para a escassez de alimentos. Dos países que fazem fronteira com o deserto do Sahara, o Níger tem sido o mais castigado pela falta de água.

Os apelos feitos em Maio para a entrega de donativos não surtiram efeito: as contribuições foram praticamente nulas. “O mundo só acorda se vir imagens de crianças a morrer na televisão”, observa o director do OCHA.

“Estamos a receber mais donativos esta semana, em que os ‘media’ têm divulgado mais os números da fome, do que recebemos durante os últimos meses”, salienta Egeland. No entanto, “para algumas crianças é demasiado tarde”.

A BBC refere também que o governo do Níger tentou ocultar a verdadeira dimensão da crise, fazendo passar a ideia de que ela não encerraria números tão assustadores.

Em Junho, o governo do Níger recusou pedidos para distribuição gratuita de comida e foi criticado por não ter ter preparado o país para a falta de alimentos.

O agravamento da situação de fome no Níger era previsível, já que a seca arruinou muitas colheitas do ano passado. Para agravar o panorama, registaram-se também invasões de mosquitos.

Ana Correia Costa