São esculturas – e não só – de contornos político-sociais, sem espaço para equívocos. “Obras Políticas” estará patente até 25 de Setembro no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, e reúne um conjunto de trabalhos em que o alemão Thomas Schütte manifesta claramente a sua reacção a acontecimentos de cariz político, como a guerra do Iraque, em 1991, ou o 11 de Setembro de Nova Iorque, em 2001. A análise e crítica política são mordazes, e títulos como “Dirty Dictators” (2003) e “Where is Hitler’s Grave?” (1991) integram o imaginário criado pelo artista. Um espaço em que barbáries como o Holocausto servem de ‘molde’ aos “monstros” de Schütte.

Comissariada pelo vice-director da instituição, Ulrich Loock, esta é a primeira mostra inteiramente dedicada ao trabalho que Schütte desenvolveu a partir de questões políticas. Entre escultura, desenho, fotografia e gravura, a mostra inclui obras de todos os períodos de produção do artista, algumas bem conhecidas e outras menos famosas.

“Autonomia” vs. “utilidade” da arte

Algumas das obras que agora ocupam o espaço do Museu de Serralves foram produzidas no início dos anos 80, num contexto artístico em que voltava a colocar-se a questão da utilidade da arte, e após um período em que esta havia sido compreendida à luz da sua inteira autonomia face à realidade política e social.

As criações de Schütte datadas dessa época parecem encerrar uma crítica às evoluções modernistas de então, ao mesmo tempo que recusam tornar-se numa alternativa consistente àqueles movimentos. “Model for a Museum”, de 1982, configura uma maqueta em que o museu é comparado a um crematório onde os artistas incinerariam as suas obras.

A contradição é uma realidade recorrente ao longo do percurso artístico de Schütte, e essa aparente incoerência face às suas próprias atitudes críticas valeu-lhe a conquista do ‘estatuto’ de refractário.

Nascido em Oldenburg, na Alemanha, há 51 anos, Schütte é uma das referências da sua geração de artistas, tendo sido premiado com o Leão de Ouro da Bienal de Veneza deste ano.

Outras propostas

O recém inaugurado ciclo de exposições de Serralves prossegue por outros espaços da instituição: a Casa acolhe, até 9 de Outubro, a retrospectiva de Ernst Caramelle, e a Biblioteca do Museu é, até 6 de Novembro, um lugar “Sem Comentários”.

Caramelle (Tirol, 1952) colocou a Casa de Serralves à disposição das necessidades dos seus trabalhos, e criou uma instalação. O espaço exibe todo o material impresso que o artista produziu desde o início da sua actividade, como convites, cartazes, livros de artista e publicações diversas. A obra gráfica exibida integrará a colecção do Museu, sendo parte dela doada pelo artista e outra parte adquirida pela instituição.

A colectiva “Sem Comentários” traz a público uma série de produções da autoria de vários artistas, entre os quais Daniel Buren e Lourdes de Castro. São trabalhos característicos das vanguardas artísticas dos anos 60, em que a publicação enquanto veículo de linguagem plástica atinge o auge da sua expressão. O livro deixa, então, de ser um meio de divulgação de informação para se transformar numa obra de arte – uma escultura, gravura ou pintura. Nascia, assim, o Livro de Artista.

Ana Correia Costa
Foto: Obra de Thomas Schütte por Jan Moesen