O fim da Guerra Fria não trouxe o sossego nuclear que muitos esperavam. Os Estados Unidos suspeitam que o Irão esteja a desenvolver um programa de armamento nuclear e insistem que há uma agenda escondida nas ambições de Teerão. Bush já admitiu mesmo usar a força como “última opção”. Outro foco de instabilidade é a Coreia do Norte, que afirmou em Fevereiro ter produzido armas nucleares.

Durante a próxima semana, a 3 de Setembro, deve-se conhecer o relatório da Agência Internacional para a Energia Atómica (AIEA) da ONU sobre o Irão.

Também na próxima semana, mas ainda sem data marcada, devem recomeçar as negociações em torno do programa nuclear da Coreia do Norte. Os Estados Unidos ofereceram garantias de segurança e ajuda económica (e energia eléctrica sul-coreana) em troca pelo desmantelamento dos alegados programas de armas nucleares de Pyongyang.

No caso do Irão, as negociações com a União Europeia pararam quarta-feira porque Teerão não suspendeu as actividades nucleares durante as conversações. Contudo, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês ressalvou que a Europa está disposta a continuar a dialogar. O presidente iraniano também se mostrou interessado em continuar as negociações, mas reiterou que iria “defender os direitos” do país “vigorosamente”.

Os Estados Unidos continuam a temer as ambições nucleares do Irão, apesar de sinais positivos recentes. A AIEA divulgou esta semana um relatório que revela que os vestígios de urânio enriquecido encontrados em reactores nucleares iranianos provinham afinal de equipamento importado do Paquistão. Washington não ficou convencido e continua a acusar o Irão de desenvolver um plano secreto de armas atómicas.

Especialistas acreditam que o Irão está a três anos de conseguir uma arma nuclear, mas há quem vaticine que pode tê-la mais cedo se se focar na separação de plutónio em vez do enriquecimento de urânio. Estas previsões podem ser até optimistas, se o Irão possuir materiais e infra-estruturas que a comunidade internacional não conheça.

Existe no Irão um consenso nacional em torno da energia nuclear. Desde a esquerda até ao conservadorismo religioso, onde se situa o presidente recentemente empossado Mahmoud Ahmadinejad, a ambição nuclear é algo que une o país e que dificilmente será abandonado pelos políticos. O Irão rejeitou uma oferta americana, feita no início de Agosto, de incentivos económicos, técnicos e políticos em troca de uma suspensão permanente dos programas nucleares.

Se o Irão continuar a ignorar a pressão internacional, é provável que a Europa e os EUA pressionem a AIEA para levar o Irão ao Conselho de Segurança da ONU, onde podem ser aplicadas sanções.

Os casos do Irão e da Coreia do Norte levam especialistas a temer um “efeito dominó” que suscite a proliferação nuclear. Outros receiam que este tipo de armamento caia nas mãos erradas, nomeadamente de terroristas. Por estas razões, há quem defenda que o Tratado de Não-Proliferação Nuclear já não tem qualquer utilidade.

Pedro Rios
Tiago Dias