Começa sexta-feira o segundo Festival Para Gente Sentada, depois do êxito da primeira edição, que recebeu no Cine-Teatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, nomes grandes aparentados da folk e das canções mais intimistas, como Devendra Banhart ou Sufjan Stevens.

Sexta-feira Woven Hand, Damien Jurado e Old Jerusalem, o único português do cartaz. Sábado é a vez do norueguês Sondre Lerche, Josephine Foster e o inglês Patrick Wolf.

Wolf, cantautor de 22 anos e criador do muito elogiado “Wind in the Wires”, lançado em Fevereiro, estreia-se em Portugal num concerto em que se vai apresentar em palco apenas com um baterista como músico adicional, deixando a si próprio a manipulação dos restantes instrumentos (dois ukuleles, o piano e a viola, instrumento da família do violino, mas mais grave do que este).

“Os meus concertos são muito despidos, tento aproveitar toda a energia que tenho”, diz Patrick Wolf ao JPN, ao telefone da Escócia.

O alinhamento deve ser maioritariamente preenchido com repertório do último álbum, mas há a possibilidade de “uma ou duas músicas novas”, já que o novo registo, previsto para 2006, já está totalmente composto e pronto para gravar.

Uma feliz união do digital e do analógico

“Wind in the Wires” é um objecto que cruza, num equilíbrio elegante, os ambientes folk e electrónico, devendo ter presença assegurada em muitas listas de melhor álbum de 2005.

“Ainda estou muito apegado ao casamento entre a electrónica e o acústico. Comecei muito cedo como violinista [aos seis anos], mas desde os 10 anos que também fiquei obcecado com theremins e electricidade. Ainda tenho muito que trabalhar neste campo”, afirma.

O primeiro longa-duração de Wolf – “Lycantrophy”, de 2004 – era mais extremado. Com muitas das composições a derivarem da fase de plena adolescência, é um disco agreste e pouco subtil, fortemente influenciado pelo espírito laptop. “Quando se plantam sementes, o solo em que se planta tem muita influência. No ‘Lycantrophy’ todas as sementes foram plantadas no computador. Todas as canções foram escritas no computador”, explica.

Patrick Wolf, que toca mais de 15 instrumentos em “Wind in the Wires”, admite que a euforia digital de “Lycantrophy” o fez voltar atrás: “No Inverno fui para a Cornualha, e levei todos os meus instrumentos, como o órgão e o ukulele, para junto do mar e as sementes foram plantadas num solo mais acústico”.

Na idade digital

Entretanto, já se avizinha um terceiro álbum, “uma mistura dos dois lados [acústico e electrónico], como num baloiço, em que se anda entre o equilíbrio e o desequilíbrio”.

O registo vai ser inspirado na “idade digital”, onde há “gente constantemente a tirar fotografias e a fazer vídeos”, gerando uma “sobrecarga de informação”: “Vai ser uma produção maximalista, quase até à insanidade”, resume.

Após algumas datas dispersas na Europa e depois do concerto em Portugal, Wolf vai fazer algumas primeiras partes da digressão dos Bloc Party no Reino Unido, em Outubro. Algo para o qual o multi-instrumentista se diz preparado: “Posso ser muito agressivo, muito apaixonado, posso ser qualquer coisa. O desafio é entusiasmante”.

João Pedro Barros
Foto: DR