O sentimento crescente de insegurança nos cidadãos é justificado?

O Porto não é uma cidade insegura. Outra coisa é a segurança pressentida pelas pessoas. A questão da iluminação é fundamental. É lamentável que tenhamos muitas zonas da cidade com iluminação do início do século passado. O despovoamento do centro do Porto e o urbanismo – há muitos recantos – também são factores, associados a não haver um policiamento de proximidade. É normal andarmos de um lado para o outro sem vermos um polícia durante horas. E se não forem tomadas medidas com rapidez, alguns bairros da cidade podem-se transformar em focos de insegurança muito grandes.

Porque é que considera que o mandato de Rui Rio foi uma oportunidade perdida para a habitação social?

Em primeiro lugar porque tivemos um presidente da câmara que afirmou publicamente que a sua prioridade era a habitação social, o que não aconteceu com os presidentes socialistas. Em segundo lugar, porque as transferências de verbas para a empresa de habitação foram das maiores dos últimos anos. Face a estas condições que estavam criadas, esperava-se muito mais da política de habitação da câmara. Mais de 20% da população vive em bairros municipais, grande parte dos quais com mais de 40 anos. Isto é uma situação dramática.

É por isso que defende um pacto entre partidos para esta questão?

Não se resolve o problema da habitação num mandato. É preciso definir um plano estratégico de intervenção nos bairros. Isto nunca demorará menos de 20 a 25 anos e, por isso, defendemos um pacto de regime para podermos resolver o problema. Defendemos investimentos na ordem dos seis, sete milhões de contos por ano durante 20 a 25 anos – grande parte do investimento da câmara tem que ser canalizado para isso.

Esse pacto não é utópico?

Se as outras forças políticas não o aceitarem, no futuro os bairros sociais vão-se transformar em focos de violência muito séria, como já acontece na zona marginal de Lisboa.

Já recebeu apoio de outros partidos para essa ideia?

Apenas o Bloco de Esquerda já respondeu e positivamente.

Como avalia a acção da câmara na requalificação dos bairros, como o de São João de Deus?

A requalificação do bairro São João de Deus era uma necessidade. 95% da população da cidade não sabe o que ali se passa. O drama é que o doutor Rui Rio não conseguiu transformar algo que devia ser consensual na cidade num projecto mobilizador. Procurou afunilar a intervenção na questão dos despejos, dizendo que ele era um homem de mão dura. O tráfico foi espalhado por outros bairros e hoje toda a gente diz que o Lagarteiro, o Cerco e o Aleixo são os grandes centros de tráfico de droga. Só se está a fazer o desmantelamento do bairro São João de Deus e não se construiu nada. Ainda está pior do que há quatro anos. Falta também trabalho social porque a primeira coisa que o PSD/PP fez foi acabar com o apoio às equipas de ruas.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Joana Beleza