Portugal está na fase 3 do período de “alerta pandémico” por causa da gripe das aves. A classificação faz parte do plano de contingência para a pandemia (epidemia generalizada) de gripe, um documento elaborado pela Direcção-Geral de Saúde (DGS) e que contém “as medidas preparatórias para fazer face a uma pandemia”.

A DGS sublinha, no entanto, que tal “não quer dizer que estamos em pandemia. A única fase em que se considera que há pandemia é a fase 6”, explicou ao JPN o coordenador da Unidade de Emergência de Saúde Pública da DGS, Mário Carreira.

Apesar da inquietação gerada em torno da gripe das aves e de uma eventual pandemia, a DGS diz que não há motivos para alarme. “A DGS declarou a a fase 3 porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a fase 3”, disse Mário Carreira. “Em termos práticos, a única consequência directa [do alerta pandémico] é que aumenta a vigilância”, explica o responsável.

“Neste momento, as pessoas não têm que se preocupar com a pandemia. Também não há gripe das aves em Portugal. As pessoas não têm que se preocupar com isso. A única preocupação é com a gripe sazonal ou gripe epidémica”, afirma.

“Não há qualquer suspeita de início de pandemia em qualquer sítio do mundo, neste momento. A preocupação de saúde pública neste momento é exactamente igual à de ontem”, acrescenta Mário Carreira.

Gripe das aves na Europa

Entretanto, a gripe das aves chegou à Europa: o vírus foi detectado na Roménia. O anúncio foi feito hoje, quinta-feira, pela Comissão Europeia, que avisou que vai proibir as importações de pássaros vivos provenientes daquele país.

Na segunda-feira, Bruxelas proibiu as importações de pássaros vivos provenientes da Turquia devido à contaminação destes animais por um vírus da gripe das aves. Confirmou-se hoje tratar-se de um vírus da estirpe mais perigosa – o H5N1.

O homem pode contrair a gripe provocada por este tipo de vírus através do contacto com aves infectadas (não se exclui a possibilidade de contágio por outro tipo de animais).

Na sequência destes dois casos, o comissário europeu para a Saúde disse hoje que a Europa tem de estar preparada para a eventualidade de uma pandemia.

Vacina ainda não foi desenvolvida

O coordenador da Unidade de Emergência de Saúde Pública da DGS esclarece que “a pandemia não é de vírus das aves, porque a gripe das aves não se transmite de pessoa a pessoa. Se houver, é de humanos, e resulta da mutação genética do vírus que provoca a gripe das aves”. Mário Carreira deixa, no entanto, o conselho: “neste momento, o fundamental é não trazer aves, vivas ou mortas, de países onde exista a gripe”.

Em termos de meios de combate a uma eventual pandemia, Mário Carreira adianta que “Portugal está a adquirir dois milhões e meio de doses de anti-viral, o Oseltamivir [substância activa]”. Além disso, “há todo um conjunto de medidas de contenção e controlo que estão a ser adoptadas”.

Quanto à vacinação, o especialista explica que “só pode haver uma vacina para a pandemia se houver uma pandemia”. Neste momento, “não se pode fabricar a vacina porque não se sabe qual é o vírus [que poderá provocar uma pandemia, ou seja, o vírus que se transmite entre humanos]. Além disso, esses vírus sofrem mutações muito rapidamente”.

“Se houver uma pandemia, presume-se que ela chegue a Portugal dois ou três meses após o seu início. Neste momento, estão a reunir-se as condições todas para que a vacina a desenvolver esteja disponível em Portugal dentro de quatro a seis meses após o início da pandemia”, refere Mário Carreira.

Cuidados com a alimentação

Embora não existam indícios de que o vírus seja transmissível por via alimentar, a Autoridade Portuguesa de Segurança Alimentar recomendou ontem, quarta-feira, que a carne de aves e os ovos sejam cozinhados acima dos 70 graus.

Para verificar se a carne está devidamente cozinhada, não devem existir partes com um tom rosado, nem um suco com fragmentos avermelhados ou rosados. Os ovos devem ser cozidos até que as claras e as gemas estejam duras.

Ana Correia Costa
Foto: Getty Images