Distinguida com o prémio Nobel da Física em 2005, a tecnologia dos lasers ultracurtos (ou ultra-rápidos) é também alvo de investigação na Universidade do Porto.

No projecto estão envolvidos alunos e professores dos cursos de Física e Física Aplicada, da Faculdade de Ciências (FCUP). A tecnologia tem múltiplas aplicações, desde a medicina à troca de informação entre computadores.

Este tipo de laser funciona por impulsos e não de forma contínua como outros lasers. O professor catedrático Luís Bernardo, um dos responsáveis pelo Centro de Lasers e de Óptica Quântica da FCUP, explica ao JPN que tratam-se de “lasers que emitem impulsos ópticos extremamente curtos”. “São como metralhadoras que emitem balas de luz à ordem de oitenta e cinco milhões por segundo”, esclarece.

Os impulsos ópticos emitidos são dez mil vezes mais brilhantes que a luz do Sol e têm a duração de nove femtosegundos – unidade de tempo um milhão de vezes mais rápida que o “flash” de uma máquina fotográfica.

Múltiplas aplicações

Os lasers ultracurtos podem ser utilizados nas áreas da biomédica e bioquímica. Permitem realizar cirurgias especificamente numa célula sem danificar o tecido celular que a envolve.

Luís Bernardo esclarece que ao “concentrar estes impulsos lasers – esse ‘bisturi’ muito pequeno e preciso – em áreas extremamente pequenas, é possível realizar microcirurgias de células”.

O laser pode também ser útil ao nível do diagnóstico de doenças com recurso à tomografia de coerência óptica. O investigador da FCUP diz que com esta técnica “é possível fazer um levantamento de camadas de células a nível longitudinal, ou seja em profundidade, sem sacrificar esses tecidos”. A tomografia permite detectar tumores com dimensões muito reduzidas.

Os lasers ultracurtos constituem uma revolução ao nível da bioquímica porque permitem estudar quase em tempo real as reacções químicas. Pode observar-se o movimento dos átomos e das moléculas durante o processo.

No campo da farmacologia, é possível chegar mais rapidamente ao resultado final de um medicamento porque se estudam os seus efeitos num tempo menor.

A tecnologia traz também melhorias ao desempenho das redes informáticas. Quanto mais depressa a informação for transmitida, maior será a quantidade de dados que pode circular nos cabos de fibra óptica.

O sistema de GPS (localização por satélite) vai também ver a sua eficácia aumentada. A comunicação entre os dispositivos na Terra e os satélites vai processar-se cada vez mais rapidamente, o que permitirá uma aumento da precisão da informação transmitida ao utilizador.

Luís André Florindo
Foto: Getty Images