O ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy, anunciou hoje, terça-feira, a autorização do governo francês às autoridades locais para imporem o recolher obrigatório nas zonas onde se registe violência urbana.

A medida, que entra em vigor amanhã, foi tomada após a reunião do conselho de ministros, habitualmente realizada à quarta-feira, mas antecipada para hoje, dada a urgência da tomada de decisões para travar a onda de violência iniciada há doze dias. Na reunião, o Governo decretou o estado de emergência.

O primeiro-ministro francês sublinhou que o Governo demonstrou que “tomará todas as medidas necessárias para restabelecer a calma”. “É hora de pôr fim à violência. A França está ferida” e “não se reconhece” nas ruas devastadas e na irrupção de violência que “saqueia e mata”, afirmou Dominique de Villepin.

O primeiro-ministro anunciou que em breve será apresentado um plano de prevenção da delinquência, que, no seu entender, advém em boa parte da imigração ilegal.

“Poderemos agora agir de forma preventiva para evitar este tipo de incidentes”, referiu Nicolas Sarkozy, acrescentando que o governo vai estar atento à evolução dos acontecimentos.

A decisão do governo francês foi tomada ao abrigo de uma lei sobre o estado de emergência, criada em 1955, aquando da guerra da Argélia. Sarkozy explicou que a evolução dos acontecimentos vai determinar a “aplicação selectiva” do recolher obrigatório.

Segundo o ministro, a decisão vai permitir à polícia realizar operações de busca durante doze dias, com base em suspeitas de armazenamento de armas.

O primeiro-ministro francês tinha já anunciado na passada segunda-feira à noite a intenção de activar o recolher obrigatório, em declarações à televisão.

Villepin anunciou ainda a mobilização de um efectivo policial extra de 1.500 agentes, aumentando assim para 9.500 o número de polícias envolvidos no esforço de restauro da ordem pública.

1.173 incendiadas na noite passada

A madrugada passada foi a 12ª consecutiva de distúrbios perpetrados por jovens na sua maioria provenientes de África. A violência urbana começou nos subúrbios de Paris, mas alastrou-se a todo o país.

Na última noite foram incendiadas 1. 173 viaturas e 12 edifícios e detidas 330 pessoas.

Villepin rejeita uso de soldados

Ainda que Villepin coloque à margem das suas opções recorrer às forças militares nacionais, o primeiro-ministro referiu que “serão tomadas, passo a passo, as medidas necessárias para restabelecer rapidamente a ordem em França”. “Assegurar a protecção de todas as pessoas é o nosso principal dever”, acrescentou.

Apesar da promessa do primeiro-ministro, doze agentes ficaram feridos durante os distúrbios da madrugada de segunda-feira.

Entre as áreas atingidas destacam-se, a sul, a cidade de Toulouse, onde os desordeiros incendiaram um autocarro, e Lille no norte, onde uma creche foi incendiada.

Duas escolas foram ainda incendiadas no norte de Paris, nas regiões de Nord-Pas-de-Calais e Picardie.

Pedro Sales Dias