A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) quer aprovar uma medida inédita a nível nacional que impede os alunos do 1º ano com cadeiras atrasadas de inscreverem-se no 2º ano.

A proposta da passagem em bloco do 1º ano foi aceite no ano passado pelo Conselho Pedagógico, encontrando-se desde então em sucessivas fases de ratificação entre este órgão e a Comissão Coordenadora do Conselho Científico (CCCC). Assim que haja um consenso quanto à forma de aplicação, a proposta será aprovada, podendo entrar em vigor já no próximo ano lectivo.

No entanto, segundo o vice-presidente do Conselho Pedagógico, Carlos Magalhães Oliveira, as imposições impostas pela CCCC à proposta, que podem vir a “suavizar” a medida, poderão vir a desvirtuar a iniciativa da direcção e as implicações práticas do texto final poderão ficar bastante aquém do pretendido.

Metade não passaria ao 2º ano

Para a direcção da FEUP, esta medida é entendida como uma acção preventiva de combate ao insucesso escolar. “O facto de no 1º ano cerca de 45% dos alunos fazer apenas metade das cadeiras é sinal de que é preciso haver uma reestruturação”, refere Carlos Magalhães Oliveira.

A direcção defende que as competências ganhas com as cadeiras nucleares do 1º ano são essenciais para o bom aproveitamento dos alunos nos anos seguintes. Só assim será possível a diminuição do tempo de conclusão de uma licenciatura na FEUP, que em média é de sete anos, mais dois do que o previsto.

Para o vice-presidente do Conselho Pedagógico, “a medida não vai penalizar os estudantes, mas antes combater uma falsa ideia de progressão”.

Estudantes contestam

A Associação de Estudantes da FEUP (AEFEUP) compreende as motivações da direcção, mas é contra a proposta. Contudo, quando a nova direcção da AEFEUP tomou posse, no ano passado, não rejeitou a proposta de passagem em bloco, que já estava a ser elaborada.

Para o vice-presidente da AEFEUP, Michael Seufert, “o sistema de passagem em bloco do primeiro ano para além de não ser corolário de um melhor aproveitamento, combate as consequências e não as causas do insucesso”.

A Associação de Estudantes nega que o problema do insucesso seja só dos alunos e lança críticas noutra direcção. “Muitas vezes há falta de competência pedagógica dos professores, a quem só é exigida capacidade científica para leccionar. A má acústica dos anfiteatros onde chegam a estar duzentos alunos também pode explicar parte do insucesso”, refere o dirigente associativo.

Projecto FEUP

A pensar na adopção da passagem em bloco, o programa curricular do 1º ano foi modificado no ano lectivo passado.

Todos os alunos recém-inscritos na faculdade viram as habituais aulas substituídas pela participação no Projecto FEUP, que pretende recuperar conhecimentos fundamentais (já leccionados no ensino secundário) e desenvolver capacidades humanas importantes.

O Projecto FEUP desenvolve-se ao longo das primeiras seis semanas do ano lectivo, tem um programa comum para todos os novos alunos, e precede as aulas das restantes disciplinas do primeiro semestre de cada curso.

Constituído pelos projectos MAFQUI (Matemática Física e Química) e SOAP (Sociabilização e Aprendizagem), o Projecto FEUP pretende ser uma ajuda à integração dos alunos na faculdade.

Estes instrumentos de apoio foram pensados no âmbito de uma alteração de exigências, pelo que, segundo a direcção, não faz sentido falar em Projecto FEUP sem a passagem em bloco.

Apesar de não concordar com esta nova regra de progressão na vida académica, a Associação de Estudantes considera o trabalho feito pelo Projecto FEUP como muito positivo.

Ao contrário da direcção, a AEFEUP considera que por si só os projectos em curso são capazes de inverter as estatísticas. A associação promete lançar o debate sobre a passagem em bloco junto dos alunos.

Filipa Tavares
Foto: Rita Braga