Germano Silva está “totalmente em desacordo” com o projecto de requalificação da Avenida dos Aliados, da autoria dos arquitectos Siza Vieira e Souto Moura. “Os arquitectos estão a adaptar a avenida ao projecto deles e não o contrário”, acusa.

“Parece-me que um arquitecto, quando pega no projecto de recuperação de uma catedral, não vai deitar abaixo a capela-mor, mas vai antes adaptá-la à catedral”, ironiza.

O jornalista e historiador da cidade do Porto esclarece que apenas conhece o projecto para a requalificação dos Aliados “daquilo que vem nos jornais”. Mas garante que a amostra não lhe agrada: “Estou totalmente em desacordo com aquele projecto. Não concebo a ideia de tirarem [da Avenida dos Aliados] os desenhos feitos em basalto, característicos da cidade e da região”. A explicação é simples: o projecto “mexe com a memória da cidade”.

Germano Silva fala com a autoridade que o profundo conhecimento que tem da história do Porto lhe confere. “Os motivos que estão desenhados [na Avenida dos Aliados] estão relacionados com actividades da cidade, como a actividade agrícola e o vinho do Porto”, explica.

Além disso, “os carros de bois foram, até ao século XIX, o principal meio de transporte na cidade”, refere, aludindo aos desenhos traçados em calcário e basalto (calçada à portuguesa) naquele local.

O historiador opõe-se ainda à reposição daqueles desenhos numa artéria pedonal da Avenida dos Aliados: “Estou contra o implante dos desenhos na Rua Sampaio Bruno. Os desenhos são da avenida e deviam permanecer na avenida”.

“É património da cidade que se perde”

Germano Silva defende que “os arquitectos deviam ter tido em conta a fisionomia da avenida de forma a preservá-la”, em lugar de “sacrificar a avenida para construir estradas”. “Eles estão a fazer ao contrário”, protesta, acrescentando que “é um pedaço de património da cidade que se perde”.

Relativamente às alterações forçadas pela implantação das bocas de entrada e saída das estações subterrâneas do metro, Germano Silva defende que “os arquitectos deviam ter conciliado as entradas [do metro] com o aspecto físico da avenida, de modo a não agredi-la. Porque a Avenida vai ser agredida”, prevê.

Germano Silva critica “o cinzentismo com que pretendem decorar a avenida”, e aponta ainda como negativa a “retirada dos canteiros e da mancha de cor que lá existe”, assim como “a colocação de passeios de granito”.

Por tudo isto, o jornalista conclui que a população deveria ter sido ouvida: “Devia ter havido consulta pública para saber se os munícipes querem ou não [o projecto], porque estamos a lidar com um património que é de todos”.

“Lamento que esse projecto se concretize”, desabafa, concluindo que “é uma perda para a cidade”.

Ana Correia Costa
Fotos: Pedro Sales Dias
Instituto Camões