Um em cada 10 consumidores de droga injectável em Portugal está contaminado com o HIV. Portugal é o país com maior incidência de sida relacionada com o consumo de droga injectada.

“Nos Estados-Membros da UE-15, os índices de casos de HIV recentemente diagnosticados mantiveram-se baixos nos últimos anos, com excepção de Portugal”, diz o relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) [PDF], divulgado hoje, quinta-feira. Em 2003, Portugal revelou um índice de 88 casos de HIV por milhão de habitantes

Apesar de registar “uma grande diminuição desde o ano 2000 (em que o índice foi de 245 por milhão)”, o OEDT sublinha que “esta diminuição deve ser interpretada com cuidado pois a comunicação de dados a nível europeu só foi implementada em Portugal no ano 2000”.

Portugal é o país da União Europeia (UE) com maior incidência de sida relacionada com o consumo de droga injectada: há 33 casos por milhão de habitantes, embora este valor tenha vindo a diminuir desde 1999. A Letónia é o país que registou o aumento mais assinalável: aumentou de zero casos em 1997 para 19 casos por cada milhão de habitantes. Espanha, onde a incidência “atingiu o pico de 124 casos por milhão de habitantes em 1994”, reduziu esse valor para 16 casos por milhão.

Cocaína ganha popularidade

O OEDT alerta para um aumento da importação e do consumo da cocaína no espaço europeu. A droga é já a segunda mais consumida, depois da cannabis. Segundo o estudo, “é provável” que 3% dos europeus adultos (15 a 34 anos) já tenha consumido cocaína e que 1% o tenha feito no último ano. 0,5% são classificados como consumidores actuais (consumiram a droga no último mês). Os valores registados em Portugal são menores: em todas as categorias demográficas estão abaixo de 1%.

A quantidade de cocaína apreendida na UE quase duplicou entre 2002 e 2003, passando de 47 para mais de 90 toneladas. A Península Ibérica e os Países Baixos são as maiores portas de entrada para esta droga na Europa.

10% dos pedidos de tratamento de toxicodependência na Europa estão relacionados com o consumo de cocaína. O OEDT estima que a cocaína desempenhe um “papel determinante” em cerca de 10% das mortes relacionadas com droga. Contudo, a heroína continua a ser a droga que mais leva os europeus ao tratamento.

O OEDT não encontra uma “resposta simples para a pergunta se o consumo de heroína ou de droga injectada está a diminuir na Europa”. Por um lado, na Europa dos 15 a situação parece ser mais positiva e relativamente estável, com sinais de envelhecimento da população heroinómana. Contudo, “em alguns dos novos Estados-Membros, onde o crescimento dos problemas associados ao consumo de heroína começou mais recentemente”, é “difícil interpretar as tendências actuais em matéria de consumo de heroína”, diz o relatório.

0,8% já experimentaram ecstasy

A tendência de crescimento do consumo de ecstasy e anfetaminas entre os jovens adultos continua a aumentar. 2,6 milhões de adultos da UE consumiram ecstasy recentemente (0,8% da população adulta).

Em Portugal, mais de 1% já consumiu ecstasy. Dinamarca, Estónia e o Reino Unido lideram a tabela do consumo de anfetaminas.

A cannabis continua a ser a droga mais popular. Em 2003, mais de 62 milhões de europeus (mais de 20% da população adulta) já tinham experimentado a droga da qual se produz o haxixe e a marijuana.

Cerca de 14% dos estudantes portugueses (15-16 anos) já experimentaram cannabis, uma subida relativamente a 1999 (não chegava aos 10%). Cerca de 5% dos portugueses dos 15 aos 34 tinham consumido cannabis no último mês.

“O impacto negativo do consumo de cannabis suscita uma preocupação crescente na Europa, embora escasseiem as informações sobre a extensão dos problemas de saúde pública causados por esse consumo”, sublinha o documento.

Segundo o relatório, “o consumo de droga na Europa continua a ser, em grande medida, um fenómeno juvenil e que atinge sobretudo os jovens do sexo masculino”. Há 1,2 a 2,1 milhões de consumidores problemáticos de droga na UE, 850.000 a 1,3 milhões dos quais poderão ser consumidores recentes de droga injectada.

Pedro Rios
Foto: SXC