Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã protagonizaram hoje, quinta-feira, um debate com muitos momentos de convergência e alguma tensão na apreciação que cada candidato fez do partido do adversário.

Louçã procurou afirmar as diferenças entre a concepção de esquerda do Bloco face à do PCP. O economista disse-se representante de uma “esquerda moderna”, em que a “liberdade é indiscutível”, referindo-se às relações entre o PCP e o Partido Comunista chinês.

Jerónimo de Sousa respondeu, afirmando que não aceita “quaisquer comparações” entre o modelo chinês e o programa do PCP. O candidato afirmou que o Bloco “não pode ser considerado um partido intocável” e que quando critica “tem que levar” a resposta.

Candidaturas vão até ao fim

Os dois candidatos afirmaram a validade das suas candidaturas, rejeitando o pedido de Jorge Coelho, feito no programa “Quadratura do Círculo” para a convergência da esquerda em torno de Mário Soares, o que implicaria a desistência das três outras candidaturas de esquerda. Os dois candidatos garantiram que vão até ao fim nestas eleições.

Economia

Na economia, a maior divergência prendeu-se com a adopção da moeda única por Portugal. Se para Jerónimo de Sousa, as empresas portuguesas perderam competitividade com o euro, para Louçã “Portugal não tinha espaço para não participar no euro”. O candidato do Bloco direccionou as críticas para o Pacto de Estabilidade e Crescimento, que, no seu entender, “destrói as conquistas sociais”.

A privatização da água foi o tema que motivou o momento mais interessante do debate, com ambos os candidatos a repudiarem energicamente a hipótese. Jerónimo deixou mesmo em aberto a utilização da “bomba atómica” (a dissolução do Parlamento) no caso de tal vir a acontecer, tal como Manuel Alegre avisou ontem.

Jerónimo de Sousa procurou, na linha do que tem vindo a fazer ao longo da campanha eleitoral, centrar a acção política do Presidente da República em “cumprir e fazer cumprir a Constituição”.

Sublinhando que a Constituição defende a manutenção do sector público, Jerónimo sugeriu que a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente da República podia ser aplicada como última hipótese, no caso da privatização da distribuição de água.

Francisco Louçã criticou o PS por, na sua opinião, permitir avanços legislativos no sentido de uma eventual privatização deste sector.

Aborto

O aborto também dividiu os candidatos. Jerónimo acusou Louçã de ter sido um “promotor da ideia da necessidade de um referendo”, o que inviabilizou a via parlamentar e adiou, com o chumbo do Tribunal Constitucional, a resolução do problema.

Francisco Louçã acusou Jerónimo de ter mudado de posição em relação à realização do referendo ao aborto. O comunista recusou que o PCP tivesse mudado de posição, argumentando que o seu partido votou a favor da proposta do PS para realizar o referendo perante a inviabilização da despenalização por via parlamentar.

Casamento homossexual

Questionado pela razão de ter considerado o casamento homossexual como uma prioridade no seu manifesto eleitoral, Francisco Louçã rejeitou a afirmação, englobando essa causa na defesa de “todos os direitos sociais”.

Jerónimo, por seu lado, afirmou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo era um “processo” que tem que partir da sociedade para só depois chegar à legislação.

Saída da NATO

A ideia de processo ressurgiu no discurso do candidato do PCP a propósito da NATO. Jerónimo defende a saída gradual da NATO, já que a “defesa nacional deve ser assumida pelas Forças Armadas”.

Mais frontal, Louçã afirmou: “Não gosto de posições de águas mansas”. O “bloquista” defendeu que “Portugal pode garantir a sua defesa” através de alianças com outros países.

Pedro Rios