Foi o mais tenso e o menos controlado pelas apertadas regras dos 10 debates entre candidatos às eleições presidenciais. No último dos confrontos entre candidatos ao escrutínio de 22 de Janeiro, Mário Soares teceu duras críticas a Cavaco Silva, a quem acusou de dizer “banalidades”, não ter “conversa”, não ser reconhecido como social democrata na Europa, não ter conhecimento da história portuguesa e não se encaixar no perfil “humanista” que deve ter um Presidente da República.

Com Soares ao ataque – como lhe competia, já que aparece distante de Cavaco em todas as sondagens -, o candidato apoiado pelo PSD e CDS-PP evitou muitas das críticas do adversário. “Não quero ser deselegante. Mas tenho de me conter”, chegou mesmo a afirmar Cavaco, quando Soares o acusou de não ser reconhecido como um social democrata na União Europeia, mas antes como um político de direita. “Porque é que está a fazer passar gato por lebre?”, rematou Soares. Resposta de Cavaco: “O que me interessa é que os portugueses me vejam como social democrata”.

No final do debate, Cavaco ironizava, dizendo ter sido entrevistado por três pessoas: os dois moderadores da RTP e o adversário, que passou todo o debate a questionar o social democrata. “Que espécie de globalização [defende]?”, “É a favor das Nações Unidas?”, “O que pensa da guerra do Iraque?” foram algumas das questões endereçadas a Cavaco, que só teve tempo de falar um pouco sobre a globalização.

“Candidatura de risco”

Para Soares, Cavaco Silva apresenta uma “candidatura de risco”, marcada por um “discurso muito economicista” e “muito curto”, que tende para a conflitualidade entre os agentes da sociedade. Cavaco defendeu-se, recuperando o passado – “presidi a um governo minoritário” – e evocando o presente – “o doutor Mário Soares deve estar surpreendido por eu ter tido o apoio de 700 sindicalistas”. “Sou um convicto defensor do diálogo social”, finalizou.

Soares considera-se um candidato mais capaz de manter a estabilidade política e social. “Com a grande conflitualidade social que vai nascer [com uma eventual eleição de Cavaco], o papel do Presidente vai reduzir-se a muito pouco”, alertou. O social democrata disse que espera “nunca ter que demitir o Governo e só em último caso mandar os diplomas para o Tribunal Constitucional”, mas sublinhou que “um Presidente não pode passar cheques em branco” ao Executivo.

Cavaco referiu-se positivamente o seu passado como primeiro-ministro, citando o jornal espanhol “El País”, que atribuiu ao ex-governante a “transformação de Portugal, depois de um período conturbado”. Soares respondeu, dizendo que Cavaco “nunca governou em tempo de ‘vacas magras'”.

No final do confronto, Soares voltou a defender novos debates entre os candidatos, mas Cavaco Silva considerou “extemporâneo” abordar a ideia.

Pedro Rios