As duas primeiras paloplastias por pilares em solo europeu para reduzir a roncopatia ligeira (ressonar) e apneia do sono decorreram sem incidentes hoje, quinta-feira, de manhã, no Hospital de S. João (HSJ).

As operações demoraram cerca de cinco minutos cada uma e os doentes devem voltar à actividade e dieta normal em menos de 24 horas. Este tipo de cirurgia, aplicada nos Estados Unidos da América desde 2004, está agora disponível no Sistema Nacional de Saúde. Espera-se que no prazo de dois anos possa ser feita em todo o território nacional, com custos suportados pelo Estado.

A rapidez não é a única vantagem desta técnica: é um procedimento indolor e menos invasivo que as cirurgias já existentes, as complicações no pós-operatório reduzem-se e o problema de saúde é minimizado numa só visita ao hospital.

A taxa de sucesso (88%) é semelhante às dos procedimentos cirúrgicos mais invasivos. Estas vantagens formam um “conjunto de oportunidades” que faz da paloplastia por pilares uma “técnica de elite” com uma “relação custo/benefício importante”, na opinião do director do serviço de otorrinolaringologia e introdutor do procedimento em Portugal e na Europa, Pais Clemente. “Vamos colonizar a Europa com esta nova técnica”, afirmou.

Pais Clemente (na foto) dirigiu hoje as operações cirúrgicas de dois pacientes com a presença de jornalistas. Depois das intervenções, o médico explicou como funciona a nova técnica: três pequenos implantes são introduzidos no palato mole para ajudar a reduzir a sua vibração, que causa o ressonar, e a possibilidade do palato obstruir as vias respiratórias superiores (apneia do sono).

Doença escondida

A roncopatia afecta 30% dos portugueses. Em 5% destes casos, o ressonar está associado à apneia do sono, doença que se caracteriza por paragens respiratórias com duração superior a 10 segundos, que, por se repetirem ao longo da noite, perturbam o descanso. A perturbação pode mesmo levar à morte.

Segundo Pais Clemente, a apneia do sono está na origem de 30% dos acidentes rodoviários em Portugal – um dos pacientes operados teve um acidente de viação depois de adormecer ao volante.

Os resultados da cirurgia introduzida hoje em Portugal surgem entre oito a 12 semanas após a operação. A operação deve ser complementada por outras medidas como a redução do peso, no caso de doentes obesos, e do consumo de álcool e tabaco.

Pais Clemente não consegue prever quantos pacientes do S. João vão procurar a técnica, já que “as pessoas têm um certo receio de falar do problema do ressonar”, que, sublinhou, “é uma doença”. Mostrou-se, contudo, “admirado com a quantidade de telefonemas” que a unidade hospitalar já recebeu de doentes interessados na operação.

Texto e fotos: Pedro Rios