Após um afastamento de dez anos da cena política, Cavaco assume hoje, quinta-feira, o cargo de Presidente da República. É a primeira vez que um político de direita vai cumprir o papel desde o início da III República.

Espera-se de Cavaco Silva um bom entendimento com o Governo de Sócrates. “De mim, o Governo, qualquer Governo, pode esperar cooperação”, afirmou o futuro Chefe de Estado. Uma sondagem recente indica que os portugueses acreditam num bom relacionamento entre o primeiro-ministro e o Presidente da República.

No entanto, Cavaco deixou na sua campanha uma mensagem de duplo sentido: “Farei todos os possíveis para que o Governo complete o seu mandato”. Subentende-se aqui que o antigo primeiro-ministro não vai prescindir do poder constitucional de demitir o Executivo se o entender.

Foi também durante a sua campanha que Cavaco focou o impulso que poderia dar à economia no nosso país, caso fosse eleito Presidente.

Mas para Francisco Castro, professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), “está fora dos poderes do Presidente da República intervir em assuntos de economia. Na sua campanha teve sentido falar de questões económicas, mas como Presidente é difícil influenciar o Governo nessas questões”.

O professor da FEP acredita que “Cavaco como Presidente da República não pode intervir em matérias de economia. Contudo como economista, [Cavaco] vai ter mais em atenção assuntos económicos, sensibilizando o Governo para a tomada de certas medidas”.

“Cavaco pode pôr a economia mais na agenda, mas pode fazer pouco mais do que isso porque são assuntos da esfera do Governo”, acrescenta.

António Costa Pinto, professor catedrático na Universidade Técnica de Lisboa afirma que “de momento, o perfil de Cavaco e o seu passado político apontam para uma maior intervenção. No entanto, há uma grande diferença entre imagem intervencionista e prática intervencionista”.

“Jorge Sampaio teve uma actividade mais interventiva que Mário Soares – basta pensarmos, por exemplo, no número de vetos de Sampaio – no entanto, Mário Soares é lembrado como um Presidente mais interventivo”, ilustra o professor catedrático.

Gina Macedo
Foto: DR