A avó de Vanessa Filipa, Aurora, já foi ouvida no Tribunal Criminal de S. João Novo, no Porto, e desmentiu ser responsável pela morte da neta. A primeira sessão do julgamento está a decorrer desde as 10h30 de hoje, terça-feira, e chamou muitos populares às imediações do tribunal, o que justifica as fortes medidas de segurança no local.

Aurora disse que nunca pensou que as queimaduras, que causaram a morte da menina, fossem graves já que Vanessa nunca chorava nem se queixava. No entanto, o Ministério Público (MP) declarou que todos os arguidos tinham perfeita consciência da degradação do estado de saúde da menina e da evolução negativa das suas lesões, das quais poderia resultar a sua morte.

“A família nada fez para reverter a situação de sofrimento em que a menor se encontrava”, acusou o MP.

Além das queimaduras provocadas pela imersão de Vanessa numa banheira com água muito quente, o MP descreveu outros maus tratos infligidos à menina, como, por exemplo, castigos psicológicos: a vítima era proibida de visitar a madrinha e fechada várias vezes e por largos períodos de tempo no quarto, na dispensa ou num guarda-fatos.

Também a autópsia revelou que a menina tinha sido vítima de maus tratos constantes, já que foram encontradas cicatrizes de queimaduras anteriores, nomeadamente causadas por um ferro utilizado para queimar leite creme e equimoses em diferentes estados de evolução.

Aurora defendeu-se das acusações e afirmou que a Vanessa tinha variações de sono mas alimentava-se bem.

“Quando fui à farmácia, pela primeira vez, disseram para levar a Vanessa ao médico, caso ela tivesse febre, mas ela nunca teve febre”, sublinhou a avó da criança.

Segundo o MP, depois da morte de Vanessa (dia 30 de Abril), pai, tia e a avó percorreram três quilómetros a pé com o corpo da criança acabando por o atirar ao rio Douro. Segundo Aurora, a tia da menina, Sandra, co-arguida no processo, era da opinião de que o corpo não devia ser deixado em casa porque poderia comprometer a família.

Ao longo do depoimento, Aurora apresentou duas versões acerca do dia em que a criança desapareceu: primeiro referiu que tinha sido ela a levar Vanessa para a margem; depois afirmou que o responsável pelo desaparecimento da menina tinha sido o pai, Paulo.

Aurora vincou que não era sua intenção fazer desaparecer o corpo da neta. Segundo a arguida, a Vanessa só foi “colocada” na margem do rio.

Marta, de 12 anos, filha mais nova de Aurora, será ouvida hoje por vídeo-conferência. Marta estaria presente na feira no dia em que a avó simulou o desaparecimento da Vanessa Filipa, para não levantar suspeitas.

Paula Coutinho
Paula Teixeira
Foto: Rita Pinheiro Braga