Fogos e ordenamento florestal foram abordados pela perspectiva ambiental, geomorfológica e económica na reitoria da Universidade do Porto, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Floresta, que se comemorou ontem.

Para o ex-director dos Serviços Florestais do Norte, José Moreira da Silva, o erro do Estado consistiu no plano de povoamento florestal de 1947. A “ordem do Estado era arborizar”, o que levou a um excessivo gasto de combustível. O especialista acredita que a solução para o impasse florestal actual está no apoio à iniciativa privada que o Estado não soube dar. “Empresas florestais bem geridas” e “bem estruturadas” com profissionais aptos, em conjunto com um eficiente sistema de alerta, meios terrestres e aéreos, acções policiais e judiciais, podem diminuir o número de incêndios.

No entanto, a problemática florestal vai para além da acção do Estado. Carlos Bateira, geógrafo e professor na Faculdade de Letras da UP, referiu que o despovoamento e consequente abandono de práticas agrícolas são dois factores graves de falta de manutenção. Estes, combinados com uma posterior reflorestação desequilibrada, constituem um perigo para as florestas.

O presidente da Direcção da Associação Florestal do Vale do Sousa e professor da Universidade Católica, Américo Mendes, expôs o que considera ser o “grande paradoxo da política florestal portuguesa”: 93,4% da área florestal portuguesa é privada mas não existem políticas adequadas para apoiar as associações e empresas. Além disso, há ainda muito pouco profissionalismo e atraso cultural.

As preocupações relacionadas com a floresta existiram desde sempre mas apenas para aqueles que se relacionavam directamente com elas. Américo Mendes explicou que desde 2003 a opinião pública portuguesa valoriza mais os temas florestais porque “tudo ardeu – do Norte ao Sul, litoral e interior, postes de electricidade e telecomunicações”.

Raquel Rego
Foto: SXC