O crescimento económico da China e o aumento da sua dependência energética têm potenciado uma maior abertura do país nas relações internacionais. Prova disso foi o encontro de ontem, quinta-feira, de George W. Bush e Hu Jintao, em Washington, que serviu para os dois países estreitaram relações diplomáticas.

Os presidentes das duas superpotências discutiram a possibilidade de as duas nações cooperarem na luta contra a ameaça nuclear. Bush apelou à China para que use a sua influência para travar o programa nuclear iraniano. Pequim tem-se recusado a utilizar o seu poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) no que respeita à aplicação de sanções ao governo de Teerão, assim como nas negociações referentes ao desmantelamento do programa nuclear da Coreia do Norte.

Apesar da aproximação diplomática, subsistem alguns pontos sensíveis no relacionamento entre os dois países. A questão de Taiwan esteve também na agenda do encontro, sendo que Bush apelou ao diálogo e negociação por parte de Pequim e Taipé, que o governo de Hu Jintao considera parte inalienável do território chinês. O cumprimento dos direitos humanos pelos parâmetros da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a aplicação de sanções ao governo do Sudão, devido ao genocídio de Darfur, foram outras das divergências discutidas em Washington.

Rápido crescimento e abertura comercial da China

Hu Jintao declarou que Pequim vai prosseguir com a reforma do sistema de câmbio chinês a par da tomada de medidas para facilitar o acesso aos mercados. O presidente chinês prometeu também avançar para desenvolver a cooperação e o comércio com os Estados Unidos. O governo americano tem insistido desde há meses na necessidade da reavaliação do Yuan, moeda chinesa, para rectificar o desequilíbrio nas trocas comerciais entre os dois países, que em 2005 se traduziu num défice de 202 biliões de dólares para a economia americana.

Segundo o especialista em relações internacionais José Palmeira, o crescimento económico galopante da China implicará um consumo energético sem precedentes, pelo que o governo de Pequim tem demonstrado interesse em cooperar com a administração norte-americana em termos políticos, assim como em respeitar os trâmites exigidos pela OMC.

Contactado pelo JPN, José Palmeira salientou o facto de que o governo americano também tem interesse em abrir o mercado do petróleo à China, até porque o país “tem-se mostrado abstinente no que respeita a decisões do Conselho de Segurança que interessem particularmente aos Estados Unidos, em que o poder de veto seria fulcral para algumas decisões”, assim como na aplicação de sanções a países do “eixo do mal” de Bush.

José Palmeira considera que o encontro de ontem veio no seguimento da demonstração de um maior pragmatismo por ambas as partes, que têm apostado em resoluções eficazes para as questões em que divergem, de modo a possibilitar uma cooperação económica e política sem entraves diplomáticos.

André Sá, com agências
Foto: U.Dettmar/ABr