Talvez não estivessem à espera de tamanha reacção e afluência de público e talvez por isso tenham ficado tão surpreendidos com o ambiente de festa cigana que se instaurou no parque de estacionamento da Casa da Música. Os Ojos de Brujo ofereceram, ontem à noite, quinta-feira, um espectáculo que percorreu os mais variados estilos musicais, mas foi a audiência presente que mais contribuiu para um concerto memorável.

Entre “Olés!” e assobios, a banda catalã dissecou o flamenco e cruzou-o com funk de uns Red Hot Chili Peppers (devido sobretudo ao excelente baixista), hip-hop em castelhano, rumbas e bulerías aceleradas, enquanto imprimia ritmos e “beatboxing” dignos de uns Asian Dub Foundation, sem perder a coesão entre os temas ao longo de todo o alinhamento.

Não há um elemento nos Ojos de Brujo que não execute o respectivo instrumento de forma exímia mas, curiosamente, foi a bailarina de flamenco, que abriu o concerto, que obteve mais aplausos. Outra surpresa foi o desempenho de um dos percussionistas, que é também o MC da banda, e que esporadicamente dava início a frases de hip-hop em que debitava algo como dez sílabas por segundo.

Os Ojos de Brujo cumpriram as expectativas do público em geral, mas também dos fãs da banda presentes, tendo apelado à participação com a voz e ritmos de palmas tipicamente flamencos e chegando a puxar vários elementos da audiência para o palco para dançar.

Hoje à noite, sexta-feira, actuam os portuenses Mundo Secreto, seguidos dos espanhóis Macaco e do alemão DJ Shantel. No sábado, a encerrar o Festival Mestiço, actuam a brasileira Cibelle, que mistura samba e bossa nova com trip-hop, e os portugueses Philarmonic Weed.

André Sá
Foto: Rita Pinheiro Braga