O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) vai abrir, a partir de Setembro, um banco público de armazenamento de espermatozóides e óvulos. O especialista em Medicina de Reprodução Laboratorial do ICBAS, Mário Sousa, disse ao JPN que decidiu avançar com o projecto, “uma vez que a lei da procriação medicamente assistida acabou de ser promulgada” pelo Presidente da República.

Mário Sousa adianta que o banco de armazenamento vai funcionar no laboratório de biologia celular do ICBAS. As obras para a remodelação começam em Agosto, num investimento de 5.000 euros por parte do instituto. Para já, o Governo fica de fora no que toca a apoio financeiro, acrescenta.

O recrutamento de dadores vai ser feito “em ambiente fechado”, começando com sessões de esclarecimento em cada faculdade em Setembro. Depois, serão contactadas associações profissionais e sindicatos. Apenas mais tarde se poderá alargar à população em geral, explica o especialista em reprodução laboratorial.

“O recrutamento tem de ser feito em ambiente fechado, para controlarmos bem os grupos e prevenirmos riscos. A experiência estrangeira mostra que ao pôr anúncios nos jornais vêm pessoas que omitem muitas doenças ou pessoas muito pobres que querem ganhar dinheiro”, justifica.

O banco é “anónimo e benévolo”, diz Mário Sousa. A doação de sémen é totalmente gratuita, ao contrário da doação no feminino. A mulher recebe entre 500 a 700 euros, por ter de passar por diversas análises, testes genéticos, consultas ginecológicas e uma ecografia final onde são aspirados os ovócitos.

Várias fases de selecção

Os critérios de selecção dos dadores passam, em primeiro lugar, pela idade, especifica Mário Sousa. As mulheres devem ter entre 18 a 35 anos e os homens entre 18 a 45. Depois, tem-se em consideração a história familiar em termos de doenças hereditárias e os hábitos pessoais – “nada de álcool, tabaco ou drogas”. São ainda feitas “análises sanguíneas, estudos genéticos e despistes de todas as bactérias transmissíveis”, acrescenta o especialista.

Por outro lado, a mulher dadora tem de ter características genéticas parecidas em 70% com as da futura mãe. Deve haver equivalência do grupo sanguíneo e de características fisionómicas externas (estatura, etnia, cores de cabelo e dos olhos).

O banco público de espermatozóides e óvulos vai ajudar a “preservar a fertilidade” dos pacientes submetidos a rádio ou quimioterapia”, ao biopreservar ovários, óvulos, tecidos testiculares e sémen.

Carina Branco
Foto: SXC