A debandada das multinacionais em Portugal “não está a ser catastrófica”, mas “a situação não é fácil e apresenta desafios de competitividade”. “Quando uma multinacional abandona um país é sempre um drama, uma questão social. No entanto, o fenómeno é também muito mediatizado”, desvaloriza Ana Teresa Tavares, professora na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

A importância das multinacionais nas economias locais e a “forma como as políticas públicas podem actuar para melhorar o impacto” destas empresas são temas abordados em “Multinationals, Clusters and Innovation: Does Public Policy Matter?”, de Ana Teresa Tavares e Aurora A.C. Teixeira, ambas da FEP e investigadoras no CEMPRE – Centro de Estudos Macroeconómicos e de Previsão. A obra vai ser apresentada segunda-feira, na reitoria da Universidade do Porto (UP).

As políticas públicas têm tido “pouco discernimento e selectividade”, diz ao JPN a doutorada pela Universidade de Reading, Reino Unido. “Portugal deve apostar mais na qualidade do que na quantidade de investimentos” e “aplicar melhor as verbas disponíveis para atrair investimentos mais sólidos”, defende.

Entre as “várias maneiras de apoiar a empresa multinacional, talvez a melhor seja dar apoio financeiro mas exigir algo em troca, como, por exemplo, a formação de trabalhadores, a garantia de empregos e investimentos na investigação”, diz Ana Teresa Tavares.

Portugal já não é visto como um país de mão-de-obra barata mas também não tem a imagem de um país com alta tecnologia. Mesmo assim, nem todas as multinacionais vão trocar Portugal pela Europa do Leste, Marrocos ou China porque há outros factores, para além do custo do trabalho, que justificam o investimento destas empresas. O país deve, por isso, investir nos recursos humanos, na investigação, no nível de qualificação das pessoas e na adaptação do empresariado aos novos desafios.

O impacto das multinacionais não depende apenas das estratégias da empresa-mãe mas também do dinamismo da filial local e da capacidade das políticas públicas de fomentarem a inovação. Neste sentido, o livro estuda casos concretos de políticas públicas em diferentes países, como Brasil, Eslovénia e Itália.

A obra, editada pela inglesa Palgrave Macmillan, será apresentada segunda-feira pelo reitor da Universidade do Porto, Marques dos Santos, e Stephen Young, da Universidade de Glasgow, às 20h, na reitoria da UP.

Alice Barcellos
[email protected]
Foto: SXC