O director artístico da Casa da Música (CdM) considera os cortes nos subsídios às entidades culturais decretado por Rui Rio uma “decisão errada”. “O Porto pode afirmar-se pela cultura”, defendeu Pedro Burmester. “Pode não se dar subsídios, mas não se pode ignorar isto”, frisou, destacando a importância de instituições como Serralves, Teatro Nacional S. João e a própria CdM.

Em conferência de imprensa para apresentar as linhas principais da programação de 2007, o director artístico e de educação lembrou que a decisão do presidente da Câmara do Porto não afecta a acção da CdM, já que a autarquia é accionista da Fundação Casa da Música e não concede qualquer tipo de subsídio à instituição.

Orçada em 4 milhões e 400 mil euros, a programação do próximo ano (o primeiro pensado pela nova equipa liderada por Burmester) faz uma “aposta clara” nos concertos de músicos portugueses e na presença da Orquestra Nacional do Porto (ONP), um “pilar fundamental” do projecto CdM. Burmester acredita que a orquestra residente pode ser a melhor da Península Ibérica em cinco anos.

A aposta nos músicos portugueses, sobretudo do Grande Porto, pretende “agarrar a cidade e o país”. Só assim a CdM alcançará “visibilidade em termos internacionais”. A ONP vai dar cerca de 50 concertos em 2007 às sextas, sábados e domingos – a CdM quer oferecer um “leque variado” de propostas de fim-de-semana.

O próximo ano será o último de Marc Tardue como maestro titular da ONP, facto que assinala “o fim de um ciclo natural que acontece em todas as orquestras”, justificou Burmester.

O Estúdio de Ópera vê a sua actividade interrompida. “A sua descontinuidade pode ser mais benéfica do que a sua continuidade porque o Estúdio de Ópera não tinha grande potencial de crescimento”, explicou Burmester.

“A CdM deve represenar como se vai reposicionar em termos de produções cénicas e de óperas”, afirmou o responsável, que sugeriu parcerias com entidades como o Teatro Nacional S. João, a Culturgest, a Gulbenkian e o Teatro Nacional de São Carlos.

Também na produção nacional, o Remix Ensemble vê a sua presença reforçada no próximo ano, com oito programas circular no estrangeiro. O fado e a guitarra portuguesa serão alvo de 11 concertos. O ciclo dedicado ao piano terá sete pianistas portugueses, enquanto a Orquestra de Jazz de Matosinhos se torna parceria para o triénio 2007-2009 da CdM.

A revolução de 25 de Abril de 1974 e a música popular portuguesa são temas de festivais a decorrer em 2007.

“Testar públicos”

O próximo ano será dedicado a “abrir portas” e “conceitos” e a “testar públicos” para que em 2008 se afinem as direcções a seguir. “O projecto CdM está a começar”, sublinhou o director artístico. “Conseguir que o público vá a um evento na CdM porque é na CdM” é o objectivo central do trabalho da equipa liderada por Burmester.

Nesse espírito de experimentação, está o “Clubbing”, um conceito novo na CdM. São 10 eventos, nos primeiros sábados de cada mês, pensadas para ocupar vários espaços do edifício com propostas representativas da cultura pop urbana e cosmopolita – podem ir do kuduro à música experimental e improvisada.

Texto e foto: Pedro Rios
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