É um rótulo que traz todo um programa: chama-se Web 2.0 e afirma-se por oposição à geração anterior de sites. A “nova” Web, que encontra em “sites” como o YouTube, o MySpace, a Wikipedia e os blogues a sua expressão máxima, distingue-se, sobretudo, por se centrar no utilizador, convidado a ser um produtor de conteúdos, mais do que um simples receptor.

Foi esse utilizador que a revista “Time” premiou como a “Pessoa do Ano” em 2006. As ferramentas são muitas e cada uma tenta trazer algo novo ao pré-existente (a tendência parece ser sempre a de aumentar a participação de quem as utiliza). Mas, como está a Web 2.0 “made in Portugal”?

“Não há ’empresas 2.0′ em Portugal. Estamos atrasadíssimos na adaptação destes conceitos”, observa Paulo Querido, mentor do DoMelhor e do Weblog.com.pt, entretanto comprado pela AEIOU.

Há um “problema de criatividade”: “não há nenhum projecto inovador, só baseados em projectos que já existem”, aponta o jornalista, que é também pessimista quanto aos índices de participação dos utilizadores.

Sem criar algo de novo (assemelha-se com o célebre Digg), o DoMelhor permite aos utilizadores sugerir e votar em páginas dignas de visita. Neste sistema editorial não-hierárquico, são as sugestões mais votadas que sobem à primeira página. “Inovo aqui dentro [em Portugal]. Adaptar as coisas já é gerar valor”, diz. O projecto “nasceu por carolice”, mas agora é um “part time” “autosustentável”.

Mercado global

Noutro nível está o Blog.com, um projecto da Portugalmail, que com um milhão de blogues se orgulha de deter 1% deste vastíssimo mercado mundial. O crescimento tem ocorrido a um “ritmo exponencial” (o número de registos dobra a cada seis meses), muito por culpa da “presença muito forte em mercados que vão crescer”, como a Indonésia e a China.

O director técnico da empresa espera três anos de crescimento – uma perspectiva optimista já que Sérgio Carvalho acredita que o crescimento exponencial do mercado de blogues deverá parar dentro de um ano e meio. A estratégia passou pela compra de um domínio invejável (www.blog.com) e por oferecer 150 domínios locais, que dão aos utilizadores uma “identificação geográfica”.

Para Paulo Querido, a escassez de projectos empresariais nesta área deve-se ao facto de a inovação em Portugal não ser “acarinhada”. “Um miúdo de 20 anos com um projecto como o Digg não tem hipóteses de obter financiamento”, exemplifica.

Também Ricardo Bernardo, autor do blogue Zone 41 e observador atento da evolução da Internet, diz que falta capital de risco em Portugal. Por isso, só se fazem “réplicas” de “sites” de sucesso, a que se soma a pequena dimensão do país.

Opinião contrária tem Sérgio Carvalho. “O facto de a empresa ser portuguesa não nos afecta a estratégia”, diz. O diminuto mercado português fez a Blog.com abrir os horizontes e hoje a esmagadora maioria dos seus utilizadores está espalhada pelo mundo. Admite que falta capital de risco em Portugal, mas defende que “não é pela falta de crédito” que os projectos não vingam.