As pessoas são sensíveis no que diz respeito a casos de crianças maltratadas, abandonadas ou negligenciadas, diz a directora da Casa do Caminho, Maria da Luz [Áudio]. Mas, “na altura em que podiam intervir como ajuda”, muitas vezes não o fazem.

“Toda a gente tem que se sentir responsável. Não há desculpas: os meios de comunicação hoje em dia são acessíveis a todos”, sustenta. “Um gesto de cada pessoa pode prevenir maus tratos”.

O panorama português de maus tratos infantis tem sido fértil em casos fatais nos últimos anos. Joana, Vanessa, Letícia ou Tiago são apenas nomes que identificam casos judiciais ou processos penais. Mas por trás dos nomes estão crianças provenientes de ambientes familiares problemáticos e que, sem detecção atempada das autoridades competentes, perecem sob o fardo da negligência ou da violência dos familiares.

A directora da Casa do Caminho, fixada em Matosinhos, entende que a prevenção passa também por uma motivação e um acompanhamento técnico das famílias, “que não seja aparecer uma vez por ano”.

Essa medida, conjugada com uma maior articulação entre os serviços competentes, permitiria avaliar precocemente os riscos que uma criança pode estar a correr e evitar desfechos fatais.

Quanto à cobertura mediática de alguns casos de maus tratos que envolvem crianças, Maria da Luz deixa um recado aos meios de comunicação social: “É preciso cuidado relativamente à identidade. Devem cumprir a sua função de informar mas sem deixar de preservar os direitos das crianças”.

O facto de a maior parte das crianças acolhidas pela instituição ser encaminhada para adopção em vez de regressar às famílias biológicas é interpretado pela directora como um reflexo da gravidade dos casos que chegam à Casa do Caminho.

Sara Santos Silva
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Foto: Casa do Caminho