Protegido de olhares indiscretos por um gradeamento amarelo, o edifício cor-de-rosa da Casa do Caminho acolhe 60 crianças maltratadas ou negligenciadas.

A planta do edíficio térreo é em forma de flor: quatro pétalas que rodeiam um centro. Cada uma das quatro pétalas corresponde a um módulo e o centro é o polivalente, espaço usado por todas as crianças.

O primeiro módulo da casa cor-de-rosa é o da entrada, com a secretaria, a direcção e a sala de reuniões. Caminhando na direcção dos outros módulos torna-se evidente a presença de crianças: choros, risos, palrares, guizos e caixas de música aumentam de volume a cada passo.

O módulo rosa alberga os bebés até 1 ano e meio. Várias trabalhadoras da instituição dão a papa aos pequenos mais esfomeados, enquanto outros descansam tranquilamente nos parques. Há ainda as crianças que, das suas cadeirinhas alinhadas, olham com curiosidade tudo o que se passa à sua volta. No berçário a meia luz, a respiração profunda do sono dos recém nascidos é o único som audível.

As crianças entre o ano e meio e os três anos são as ocupantes do módulo azul. A educadora, sentada no chão, está rodeada de brinquedos que ganham vida nas mãos dos mais pequenos. Entre risos e exclamações, cada criança escolhe um papel que representa num palco invisível. No dormitório ao lado fazem-se as camas alinhadas que à noite vão voltar a embalar os pequenos donos.

O módulo verde é o último e é a casa dos mais velhos. Dos três aos seis anos, os pequenos moradores organizam-se dois a dois sob as instruções da educadora. Depois de lavar as mãos, é hora de ir almoçar para os meninos em idade pré-escolar.

A cozinha, o refeitório, o gabinete médico e a sala de visitas são outras das divisões que servem diariamente os 50 trabalhadores da instituição e as 60 crianças de que cuidam, para quem o edifício soalheiro, mais do que uma instituição, é um lar.

“Toda a gente tem direito a uma família. A felicidade não está na Casa do Caminho, mas fora da Casa do Caminho, com a Casa do Caminho”, afirma a directora, Maria da Luz.

Sara Santos Silva
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