O colóquio “Mulheres Estudantes Trabalhadoras da Universidade do Porto” (METUP), realizado nesta sexta-feira na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, procurou mostrar a situação das mulheres que tentam conciliar o emprego e a família com uma licenciatura.

Eva Temudo, uma das responsáveis pelo projecto, revelou que o tema da investigação surgiu de uma experiência pessoal. “Percebemos que as pressões de trabalhar e estudar ao mesmo tempo são comuns a muitas colegas”, afirmou.

A investigadora ressalta o facto de a mulher conseguir acumular uma grande vontade de tirar uma licenciatura com o papel social de mãe, dona de casa e trabalhadora. “É a prova de uma grande aposta na sua vida académica e pessoal”, destaca.

A investigação conclui que as mulheres entram na universidade para o desenvolvimento pessoal e para a realização de um sonho. No entanto, deparam-se com vários obstáculos. A investigadora Mónica Oliveira assinala diversas carências ao nível dos horários de serviço das faculdades. “Não há horários pós-laborais. Quem quiser tratar de algo na secretaria tem de tirar um dia de folga”, afirma.

As relações com as entidades patronais também não são as melhores. “Não há o cumprimento do estatuto de trabalhador-estudante”, sublinha. Os empregadores são acusados de dificultar a necessidade de faltar ao emprego para assitirem a aulas ou efectuarem exames. “Verifica-se igualmente uma pressão para conpensar as horas que dedicam ao estudo”.

Na vida famíliar, a mulher sofre com a incompreensão e o sentimento de culpa por tirar tempo à família. Por outro lado, é sobre a mulher que continuam a recair as tarefas domésticas. Mónica Oliveira defende uma educação ao nível da igualdade. “A mulher não pode continuar a ser vista como a detentora da responsabilidade do lar”.

O homem é ainda pouco actuante. “Limita-se a ajudar a pôr a mesa e pouco mais”. Além disso, o homem trabalhador-estudante recebe mais apoio por parte da família e, ao contrário da mulher, não demonstra qualquer sentimento de culpa.

A investigadora considerou ainda que a valorização da mulher enquanto trabalhadora-estudante passa pela visibilidade deste estudo na comunicação social. “É necessário chamar a atenção para este grupo de mulheres”, afirmou.

Apesar do grande desgaste físico e emocional, as mulheres incluidas no estudo não pretendem desistir. A amostra demonstra mesmo querer continuar a estudar para além do fim da licenciatura. São “verdadeiras heroínas”, conclui Eva Temudo.