Ao longo de cinco dias, o U.Frame, que terminou domingo, transformou o Porto numa montra de vídeos académicos de todo o mundo. Países tão diversos como Israel, Peru, Malásia ou Austrália foram representados por estudantes que encontraram na primeira edição do Festival Internacional de Vídeo Universitário uma oportunidade para verem os seus trabalhos reconhecidos.

Para além da projecção de filmes (“Roads”, de Lior Geller, da Universidade de Tel-Aviv, Israel, recebeu o Grande Prémio do Júri), o U.Frame – organizado pelo curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP), em parceria com a Universidade da Corunha – proporcionou masterclasses e workshops, envolvendo activamente os espectadores.

Nuno Markl foi um dos formadores convidados pelo U.Frame para realizar o workshop “Escrita para pequeno ecrã”, juntamente com Maria João Cruz, também das Produções Fictícias. De acordo com Markl, esta foi uma experiência para repetir. “Fiquei muito animado e estimulado porque o grupo era muito activo e inteligente, com ideias óptimas. Gerou-se um ambiente muito interessante de brainstorming“, revela.

Andrew Shea, director e realizador de cinema norte-americano, esteve também presente para apresentar uma masterclass com o título “The border between fiction and narrative”, uma sessão em que se projectaram e se comentaram excertos de documentários produzidos por alunos da Universidade do Texas.

Shea confessou ao JPN ter adorado esta “reunião de estudantes de todo o mundo para se conhecerem e verem os trabalhos uns dos outros”.

Filmes com pouco público

No que diz respeito às projecções dos filmes a concurso, o auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, esteve longe de encher. Conferências sobrepostas a workshops e falta de divulgação foram as queixas mais repetidas pelos espectadores.

“Deviam ter apostado mais numa divulgação exterior e não só dentro da universidade. Mas mesmo alunos de outras faculdades da UP não sabem da existência do U.Frame, algo que acho muito estranho para um evento deste género”, criticou Jorge Mindelo, estudante da Faculdade de Belas Artes da UP.

Produção nacional com “boas ideias” mas poucos meios

Quanto à qualidade dos filmes exibidos, os júris falam em algumas discrepâncias entre as produções nacionais face às de outros países, sobretudo alemãs, que revelam maior especialização técnica.

Adriano Nazareth, professor de cinema da FBAUP e uns dos júris do festival, encontrou apenas “dois exemplos bons de uma média produção profissional em Portugal”. Já nas produções alemãs detectou “quatro ou cinco trabalhos” com qualidade profissional.

Mário Augusto, jornalista de cinema e também júri do festival, considera que “os portugueses têm essencialmente boas ideias”. “Às vezes podem não ter os meios necessários mas demonstraram aqui na competição que têm bons trabalhos. Sobretudo na animação”, defende.

Molly Green, participante norte-americana, realizadora do filme de ficção “That’s not funny”, mostrou-se surpreendida com a qualidade dos trabalhos dos outros candidatos. “Temos a tendência para pensar que os EUA são o centro da produção cinematográfica, mas não são. Ao ver os outros filmes, apercebemo-nos que existem coisas muito interessantes de todo o mundo e vozes muito diferentes”, notou.