Movimentos cívicos em demasia?

João Teixeira Lopes reconhece que nos últimos anos nasceram alguns movimentos cívicos pelo Porto (o ImPorto-me, pelo centro histórico, o movimento contra a concessão do Rivoli a Filipe La Féria e a recém-formada Associação de Cidadãos do Porto), mas acredita que o novo grupo de cidadãos pode ser uma “rede de redes” cívicas. Até porque muitos dos seus membros passaram ou ainda pertencem aos outros movimentos, notou.

Quer construir uma “plataforma de debate permanente”, desligada dos partidos, que deverá ter o seu primeiro momento em Janeiro do próximo ano com um fórum aberto a todos para discutir a situação do Porto e chegar a propostas “concretas” que repensam a cidade. É um novo movimento informal de cidadãos, ainda sem nome, mas já com um manifesto onde expressam descontentamento com o rumo actual do Porto.

O manifesto – intitulado “Onde vais cidade?” e que pode ser assinado na internet – já foi subscrito por pessoas de várias áreas, com ou sem filiação política. Entre os signatários estão pessoas como Tiago Azevedo Fernandes (responsável pelo blogue “A Baixa do Porto“), Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero, o geógrafo José Rio Fernandes, a escritora Regina Guimarães, o arquitecto Manuel Correia Fernandes, várias personalidades ligadas ao teatro e à ecologia.

O documento mereceu a aprovação de “pessoas que estão em partidos políticos”, “simpatizantes de Manuel Alegre”, mas também outras “completamente independentes”. “A acção dos partidos tem limites e deve ser vivificada”, acrescentou.

Mais participação em ano de eleições

O fórum de Janeiro não terá “pontos de partida”. A ideia é chegar, nessa altura, a consensos e a “propostas que possam ser aplicadas”, que obedeçam a uma “visão global sobre a cidade, incluindo a cidade-região e a cidade global”, explicou o militante do Bloco de Esquerda João Teixeira Lopes, esta quarta-feira, em conferência de imprensa. “Estamos a ser expulsos dessa construção da cidade”, disse o sociólogo.

Entre outros pontos, critica-se a construção de uma cidade “para turistas ou para ricos”, como disse Natércia Pacheco, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto. Tal é patente, por exemplo, no preço das casas reabilitadas na Praça Carlos Alberto, acrescentou Teixeira Lopes.

No manifesto, lê-se que “a cultura na e da cidade é vista como inimiga a abater” e que é tempo de acabar com a “negligência cívica”.

O grupo acredita que 2009 será o “ano por excelência para haver mais participação cívica porque vai haver eleições”. “Neste momento, a cidade está esvaziada do poder do cidadão”, disse Natércia Pacheco.

O grupo rejeita, porém, ter um papel activo nas autárquicas e exclui qualquer candidatura eleitoral. Teixeira Lopes disse apenas que “qualquer um dos actuais subscritores do manifesto é um potencial candidato à Câmara do Porto”.