Trinta anos é uma vida. José Carlos Vasconcelos (JCV) leva uma preenchida. Ao longo da sua existência criou e participou em muita coisa. Uma delas tem vindo a ser o “Jornal de Letras” (JL), que já leva o número de anos escrito no início deste parágrafo. Não se chama apenas “Jornal de Letras”, mas sim “Jornal de Letras, Artes e Ideias”. Para mantê-lo até hoje, o director bem teve que ter muitas ideias e arte.

Vê o Jornal de Letras como um filho seu, já criado?

Já criado, não sei… Em matéria de jornais, já tem alguma idade e, se calhar, também é como as pessoas, que estão sempre em criação. Nesse sentido, devemos tentar que eles sejam cada vez melhores. Não é o mesmo que um filho de carne e osso, mas “jornalisticamente” posso dizer que sim, é um filho meu: porque estive na sua base; porque ninguém acreditava que ele se mantivesse tanto tempo; e porque tenho lutado sempre pela sua existência, que é também um acto e uma forma de resistência.

Ao longo de todos estes anos de criação, lembra-se de algum período mais difícil que o jornal atravessou?

Teve vários, quer por razões internas, quer por razões externas. Eu estive na base da sua criação, e no início nem mesmo os meus camaradas acreditavam na viabilidade deste projecto, mas como eu era, além de director do jornal, director editorial do grupo, foi possível mantê-lo. Como tudo, teve períodos de maior contracção, o que mais recentemente voltou a verificar-se dentro de uma certa crise que existe, que leva o JL, como uma empresa comercial e de comunicação social típica, a ter alguns problemas.

Consegue imaginar o Jornal de Letras com 60 anos de existência, ou acha que o jornalismo em papel está ameaçado?

Pessoalmente, acho que o jornalismo em papel passou a ter outro tipo de concorrência, mas que pode ser vista numa perspectiva de complementaridade. Eu não sou muito dado às novas tecnologias, nem as domino perfeitamente. Uma das razões de subsistência do JL é o facto de não andar atrás da última moda, e valorizar a qualidade onde quer que ela esteja. Não é, nem nunca foi um órgão de capelas, de grupos ou de uma certa “socialite” que também há na cultura. Sempre combati e combato uma ideia de menorização do papel, ou a ideia absurda de que ele possa acabar, mas tenho todo o interesse em que o JL esteja presente, como hoje está, nessas outras plataformas.

O Jornal de Letras já tem site e blogue. Hoje em dia, orgulha-se tanto de ver a informação do JL na Internet, como de a ver no papel, já com 30 anos?

Para ser inteiramente sincero, é óbvio que a minha ligação fundamental é ao papel, esse é o jornal que eu fiz com outras pessoas, que nós estamos a fazer, e essa é a base de todo o resto. Mas tenho muita honra em ver alguns dos nossos conteúdos na rede, que não podem ser todos os que estão papel por uma razão de subsistência económica.

Considera a população jovem um bom público do Jornal de Letras?

Claro que sim. Aliás, a definição de jovem pode ter mais do que uma leitura: há a juventude em idade, e há a outra juventude que nem sempre coincide com a idade. Eu sempre tentei que o JL fosse, como eu próprio tento ser, jovem no melhor sentido. Isto é: não ser conformista, ser rebelde, não se vergar às modas, inclusive à moda do “vamos fazer isto só para uma certa geração”, o que, aliás, seria suicida.

Quais são os seus desejos para o futuro do Jornal de Letras?

Desejo que possa continuar a existir e a resistir, se possível com mais recursos e meios, porque sei, pela minha experiência, que se os tivesse podia ser melhor. Mas espero que continue fiel aos valores de sempre, e que possa durar muitos anos para além de mim, que naturalmente não poderei estar à sua frente muitos mais.