Foi um movimento para todas as idades e para todos os quadrantes sociais: jovens, adultos, idosos, famílias inteiras; desempregados, “quinhentoseuristas”, subcontratados, contratados a prazo, estagiários, bolseiros, estudantes, sem abrigo, emigrantes ou pensionistas. Todos juntaram-se na manifestação da, assim designada, “Geração à Rasca”, a 12 de março de 2011.
O movimento teve uma adesão que fica para a história. A organização apontou para 300 mil indignados: 200 mil encheram por completo a avenida da Liberdade, em Lisboa; 80 mil rumaram da Batalha à praça da Liberdade, no Porto; outros 20 mil mostraram a sua insatisfação noutras onze cidades portuguesas. Números que excederam as perspetivas dos organizadores.
Ao som de “Parva que sou”, canção do grupo português Deolinda que foi a bandeira do protesto, foi contestado o estado social do país. Os “900 mil falsos recibos verdes, 700 mil desempregados, 400 mil trabalhadores temporários, 100 mil precários na função pública, 20 mil alunos que perderam bolsa, estágios não remunerados, cortes nos subsídios de desemprego” foram as principais razões que motivaram os protestos.
Naquele que foi um “protesto apartidário, laico e pacífico”, a organização ficou “feliz” com a adesão. João Moreira disse estar “imensamente contente” com o que foi conseguido nessa tarde. “Estamos todos de parabéns. A luta vai continuar e quando nos mexemos e participamos os políticos ouvem-nos e tomam compromissos de acordo com isso. Estamos a conseguir a mudança política”, rematou. Já Paula Gil, outra organizadora, preferiu evidenciar que a iniciativa provou que “a precariedade afeta toda a gente na sociedade”. “Esperamos que este seja o primeiro passo para uma democracia participativa”, acrescentou.
Milhares de pessoas entregaram aos responsáveis inúmeros papéis que continham as razões que as tinham levado a sair à rua, sejam relatos de situações precárias ou sujestões para um país melhor. Esses mesmos papéis foram entregues, mais tarde, a 25 de março, na Assembleia da República.
E um facto que não pode passar despercebido é que tudo começou no Facebook. A rede social mais utilizada à escala global foi o principal motor de todo o movimento. Foi criado um ‘evento’ que foi aceite por quase 68 mil pessoas e que fez crescer a expetativa em torno da possível adesão massiva à manifestação. Só depois de um número bem redondo de inscritos é que os órgãos de comunicação social destacaram o movimento “Geração à Rasca” nos seus serviços informativos.
“A maior mobilização popular desde o 25 de Abril”
A manifestação foi de tal forma grandiosa que o eco junto da imprensa internacional foi notório. O diário espanhol “El País” afirmou ter sido “um protesto contra a precariedade laboral e as injustiças sociais”, num país “que vive a pior crise dos últimos 30 anos”, e que foi “a maior mobilização popular desde o 25 de abril de 1974”.
O concorrente “El Mundo” optou por sublinhar a presença de “todos os setores da sociedade” no movimento. O jornal francês “Libération” destacou que, no ano de 2010, 720 mil pessoas tinham contrato a prazo e existia, aproximadamente, um milhão de trabalhadores independentes em Portugal.