O método é quase o mesmo e o resultado é igual: pessoas felizes e relações reforçadas. No entanto, a concretização é bem diferente. Na lisboeta “Life Paper“, é possível oferecer ao surpreendido uma autêntica viagem pelas suas vidas, entre pessoas e locais que o marcaram especialmente, durante um dia inteiro. Hugo Quinta, mentor do projeto, descreve a atividade como um “rally de emoções”.

“Depois de me contactarem, só preciso de uma listagem das pessoas importantes na vida da pessoa a surpreender e de uma reunião com quem me contactou para conhecer a pessoa. Depois, combina-se o local em que cada um deles se vai encontrar com o surpreendido e uma possível atividade relacionada com a memória daquelas pessoas”, explica Hugo.

O preço ronda os 300 euros em Lisboa e os 400 no resto do país, mas Hugo apresenta uma boa solução. “Se for um grupo e todos contribuírem, acaba por ser o valor de uma prenda normal. Em alguns há mais de 20 pessoas por dia e, de facto, aquilo que proporciona à pessoa é inesquecível”, garante.

Um jantar de Natal em pleno agosto

E na “Life Paper” já aconteceu de tudo. Desde tias que esperaram a sobrinha na maternidade vestidas de reis magos, amigos que se encontraram com o surpreendido vestidos de mergulhadores sentados “com as barbatanas no rio”, em plena cidade de Leiria, à organização de um jantar de Natal em agosto, “porque era um dos momentos preferidos da pessoa”. “Enfeitámos a casa toda como se fosse Natal”, conta Hugo. “É que quando as coisas saem um bocadinho fora do comum, acabam por ter mais impacto”, aponta.

A ideia nasceu em 2006, quando uma amiga propôs a Hugo que organizasse a sua festa. “Surgiu-me a ideia de fazer um percurso pela vida dela”, conta. Tinha 28 anos, estava no mundo da produção de espetáculos, já tinha passado por sítios como o Centro de Tecnologia do Espetáculo ou a Companhia Nacional de Dança, em Madrid, e viajado por cerca de 20 países em todo o mundo. Bastaram dois anos para que Hugo transformasse a sua ideia numa negócio.

O investimento foi quase nulo, já que um computador, um telefone e cerca de 15 dias de planeamento bastam para que Hugo Quinta faça as pessoas felizes. “O gasto é mais de tempo do que necessariamente de recursos”, explica. E o feedback tem sido “bastante positivo”. “Há um envolvimento não só dos surpreendidos mas também das pessoas que participam, que acabam por perceber qual é o seu lugar na história de vida daquela pessoa”, explica.

Pequenos detalhes originam grandes surpresas

A “Faz Uma Surpresa” é mais liberal e faz um bocadinho de tudo. Seja para pedir em casamento, dar os parabéns, pedir desculpas ou surpreender só porque sim, o ideal é chegar “sem ideias” e esperar que Ângelo e Margarida tratem de tudo. Eles vão querer saber tudo sobre a pessoa surpreendida, já que são apologistas de que “pequenos detalhes dão origem a grandes surpresas” e preparam um plano intensivo e personalizado de pequenas surpresas para a pessoa, durante o período de tempo que o cúmplice pretender.

“Não é preciso nada excêntrico para surpreender as pessoas”, defende Ângelo Simões. “O que interessa é que vão acontecer momentos inesperados de que a pessoa não está à espera e pode não parecer nada de extraordinário, mas tem muita importância para quem os está a viver. Quando se estão a trabalhar pormenores pessoais, isso é quase garantido”, afirma. As surpresas são acompanhas com um envelope personalizado e lacrado que, através de pequenas frases, explica todo o sentido da surpresa.

De receber uma encomenda em casa a conduzir um camião TIR

Mas isto não quer dizer que não se possa apostar numa surpresa megalómana, como levar um camião TIR até à casa de uma “pessoa já crescida” para ele realizar o sonho de o conduzir, levar uma fadista e dois guitarristas para animar o café de um casal numa esplanada rotineira ou contratar um grupo de atores profissionais para desempenhar uma performance. Seja o que for, estas surpresas tentam “ir sempre de encontro às rotinas das pessoas” e são possíveis devido aos cúmplices e ao número de parceiros que Ângelo e Margarida conseguiram reunir e que lhes disponibilizam imensos recursos.

“Os cúmplices dizem que para eles é quase tão bom como serem surpreendidos”, conta Margarida. “A verdade é que as pessoas querem ser felizes”. Por isso mesmo, o preço, que ronda os 300 euros, não é um impedimento e já realizaram mais de 20 surpresas, desde setembro. “Não é uma coisa essencial, mas acaba por ser muito importante. Há pessoas que olham para isto como uma coisa muito importante, mais até do que ir de férias, por exemplo”, conta Margarida. E a solução pode ser a mesma: juntar um grupo de amigos.

A bracarense “Faz-me Uma Surpresa” surgiu há um ano, no âmbito do programa “So You think You Can Pitch”, pela mão dos colegas de curso Margarida Rocha e Ângelo Simões, de 29 e 31 anos, respetivamente. “Foi muito engraçado. Nós tínhamos as nossas carreiras profissionais e, a determinada altura, de uma forma independente, decidimos romper com o que estávamos a fazer e abraçar novos desafios”, recorda Margarida.

“O que queríamos efetivamente era dar às pessoas algo bom. Tem de ser uma coisa marcante, tem de trabalhar a felicidade e a emoção das pessoas”, conta Ângelo. Neste momento ainda estão a “otimizar processos”, mas não podiam ter um feedback mais positivo.