A 6.ª edição do certame reuniu mais de cem jovens do ensino secundário e superior. De entre 40 projetos nas mais diversas áreas, um dos destacados consiste numa aplicação de apoio ao estudo para alunos do secundário. O JPN visitou a Mostra para conhecer algumas ideias inovadoras.

Mais de 40 projetos de jovens empreendedores apresentam-se ao público na Alfândega do Porto. Foto: Laura Luchtenberg/JPN

Entre os dias 5 e 7 de junho, a Alfândega do Porto recebeu a 6.ª edição da Mostra de Jovens Empreendedores, integrada no Projeto Portugal Empreende 4.0. No total, foram apresentados 40 projetos 14 dos quais saíram premiados.

Desenvolvidos por mais de 100 jovens, entre os 15 e os 25 anos, vindos de norte a sul do país, os projetos aspiram trazer inovação nas mais diversas áreas – ambiental, criativa, cultural, tecnológica ou até social. Impulsionado pela Fundação da Juventude, o evento tem como missão promover a integração na vida adulta e profissional, juntando em competição estudantes do ensino secundário, profissional e superior, do público e do privado. 

Os prémios, divididos em categorias e níveis, incluem bonificações monetárias (até milhares de euros), mentorias e a seleção para programas de incubação, de forma a desenvolver projetos. Dentre a extensa lista, destaca-se o Prémio Especial Universidade do Porto, uma participação da Universidade Júnior 2024, que apontou o “Projeto On Study” , desenvolvido por Isabel Oliveira, Beatriz Vieira, Maria Toga, Clara Azevedo e José Fernandes – alunos do ensino secundário com idades compreendidas entre 15 e 16 anos.

Em entrevista ao JPN, uma das integrantes do projeto, Beatriz Vieira (16 anos), conta que a ideia surgiu para resolver um problema recorrente no ensino secundário. “Um único professor não consegue ajudar 30 alunos numa sala de aula” de uma vez, explica, sublinhando ainda que há ainda dificuldade no estudo autónomo. Por isso, decidiram “criar uma maneira ainda mais fácil e acessível” para que todos possam ter apoio ao estudo – através de uma aplicação.

A plataforma quer promover “interajuda” – assim, os alunos podem dar e/ou receber explicações por videochamadas. A dinâmica é semelhante ao modelo de “compra e venda”: os utilizadores registam-se como pertencentes a um determinado estabelecimento de ensino e ano escolar e especificam quais as disciplinas que estão aptos a ensinar. Quem tiver interesse em ter apoio, entra em contacto. Tudo isso online e de forma gratuita. 

O grupo está, atualmente, a concorrer em diversas iniciativas com vista a encontrar ajuda para a desenvolver e vir a proporcionar apoio a estudantes de diversas regiões do país. Além disso, outro objetivo é vir a expandir o software para o Brasil, “já que a barreira da língua não existe” – e, futuramente, “levá-lo ao mundo inteiro”.

No que concerne a áreas de empreendedorismo, enumeram quatro distinções, galardoadas com mil euros. Em empreendedorismo criativo e cultural, ganhou o projeto “Casa do Terror”, de Maria Leonor Toscano; já em empreendedorismo social, destaca-se “SKIPO”, criado pelos jovens Guilherme Querido, Leonor Gonçalves, Ricardo Carvalho, Gabriel Batista. Soma-se ainda empreendedorismo ambiental, cujo foco cai no projeto “Gramas a Granel”, de Paulo Silva e, em empreendedorismo tecnológico, ROOTKey”, de Gonçalo Pedro Gil.

Outros vencedores de Prémios Especiais

Prémio ANJE – Pelos projetos “(Edu)Coração”, de Sebastião Mendonça, “Yzzy”, de Tiago Fernandes e Pedro Martins, e o “My Garden”, de Vasco Vicente e Matilde Nunes.
Prémio Direção Geral da Educação (DGES) – Pelo projeto “LegalAID”, de Baltazar Oliveira, António Carvalho e Manuel Barros.
Prémio EDP- TFOTE – Pelo projeto “The Future of Elderly”, de Tomás Carvalho de Sousa.
Prémio Fundação da Juventude – Pelo projeto “Alcino”, de Inês Costa, Gonçalo Carvalho, Guilherme Salvador.
Prémio Portus Park – Pelo projeto “Debate+”, de David Greer, Inês Raposo, Guilherme Salvador.
Prémio Lusoponte – Pelo projeto “Cloudia by IMAGI” de Inês Lima, Mariana Oliveira, Leonor Pires, Raquel Rebordão.
Prémio CastelBel – Pelo projeto “A Tabela Periódica em Braille”, de Rui Filipe.

O sonho de alcançar o “unicórnio” do mundo real

Mas a Alfândega do Porto abraçou dezenas de exemplos do que o talento jovem pode trazer no campo da inovação, procurando responder criativamente a diferentes questões que causam transtorno no dia a dia. Tendo isso em conta, o objetivo era comum: idealizar uma startup de sucesso. No decorrer da mostra, o JPN foi conhecer algumas ideias.

As startups “unicórnio” são empresas tecnológicas avaliadas em mais de mil milhões de dólares. Geralmente, são negócios com foco no consumidor e não em serviços ou produtos para empresas. Conseguir edificar algo deste género é o desejo de qualquer empreendedor – e é este o modelo que inspirou os participantes a procurar e explorar lacunas.

Os projetos empreendedores exploram negócios ambientais, criativos, culturais, tecnológicos e sociais. Foto: Laura Luchtenberg/JPN

Fabiola Santos, 28 anos, foi uma das estudantes presentes no concurso e o enfoque principal do seu projeto gira em torno da educação financeira. Mãe de uma menina de três anos, com formação em design gráfico, criou uma aplicação que atua como um banco educacional digital – isto é, converte as notas escolares numa moeda digital para que os alunos consigam utilizá-las no futuro. 

O intuito é que os estudantes comecem a juntar “dinheiro virtual” a partir do primeiro ano do ensino básico. Mas só a partir do sétimo ano, aos 13 anos, é que têm acesso a uma simulação de como investir e gerir estas moedas, antes de poder vir a utilizá-las de facto. Assim, molda-se desde cedo um indivíduo apto e familiarizado com sua vida financeira, a fim de “prevenir os erros” que futuramente podem “custar muito caro”, explica ao JPN.

O projeto, chamado “PigBank”, visa incentivar os estudos e ajudar os alunos a perceber que o esforço compensa, a valorizarem as suas conquistas. Junta o útil ao agradável – além de estimular conhecimento a nível financeiro, cria a possibilidade de converter as “pigcoins” para financiar as propinas universitárias, fazendo com que o aluno se mantenha motivado a não interrompa o ciclo de estudos.

A ideia surgiu justamente por Fabiola Santos considerar não ter sido um bom exemplo para a filha. Deste modo, criou algo onde “a autonomia dela, que é o esforço escolar, fosse realmente monetizada”, fazendo bom proveito do seu rendimento. A longo prazo, a estudante gostaria de fazer parceria com outros produtos digitais para que essa moeda possa vir a ser vinculada e efetivamente ter valor.

Porém as finanças não são o único foco de exploração. De facto, os 40 projetos trazidos abordavam as mais diversas vertentes e  funcionalidades muito distintas. Foram desde uma “rede social” para estudar em conjunto até um cabo de segurança de bicicleta ativado com QR code, passando ainda por um dispositivo de realidade virtual para crianças com dor crónica ou até mesmo uma coleira inteligente para animais de estimação.

Oportunidades para levar a “geração mais qualificada de sempre” mais longe

Neste espaço expositivo, cria-se um momento de contacto com potenciais investidores, empresários e parceiros. Para João Paulo Correia, Secretário de Estado do Desporto e Juventude, presente na cerimónia de abertura, a mostra simboliza um “oportunidade para a inovação”, cultivando um espirito decriatividade e de empreendedorismo“.

João Paulo Correia frisa que “esta é a geração mais qualificada de sempre“. Aliás, avança que, de acordo com dados recentes, em Portugal, 50% dos jovens na casa dos 20 anos frequentam o ensino superior. Com iniciativas do género, podem ainda “procurar uma oportunidade” para “vencer na vida profissional”. 

Secretário de Estado do Desporto e Juventude, João Paulo Correia, trouxe uma mensagem de confiança no futuro frente ao crescimento da economia. Foto: Laura Luchtenberg/JPN

O Secretário de Estado do Desporto e Juventude expressa orgulho no país, que tem vindo a manter-se acima da média europeia de frequência no ensino superior, que é de 42% – número que há alguns anos seria tido como “utopia pura” por superar as expectativas de metas traçadas anteriormente.

Além disso, adiantou que o número de jovens portugueses “nem nem” (nem estudam, nem trabalham) reduziu. A previsão da União Europeia sobre esses jovens para Portugal era de 9% em 2030, o que foi alterado, já em 2022, para 8,4%. “Um grande avanço, um grande passo”, aponta, mas que ainda é expressivo (representando cerca de 190 mil jovens) e, portanto, precisa ser diminuído.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira