"Suécia", escrita pelo poeta e crítico Pedro Mexia, está no Teatro Nacional São João até 25 de junho. O JPN falou com o autor e com o encenador da peça, o também diretor artístico do TNSJ, Nuno Cardoso.
Como cinéfilo que é, Pedro Mexia socorre-se da linguagem do cinema para explicar a sua estreia como dramaturgo. Depois de algumas “curtas”, como “Nada de dois”, “Suécia“ assume-se como a sua primeira “longa-metragem” no teatro. Está em cena no Teatro Nacional São João (TNSJ) desde o dia 8 e por lá vai ficar até 25 de junho.
Ironicamente, tanto o autor Pedro Mexia como o encenador da peça, Nuno Cardoso, nunca estiveram na Suécia. No entanto, ambos partilham da mesma vivência de infância, na qual se deu o 25 de Abril de 1974, em Portugal. Assim, tiveram desde cedo a “ficção” do que era o modelo sueco e imaginavam como seria o Portugal pós-revolução.
A ação da peça decorre no contexto das eleições de setembro de 1976, na Suécia, altura em que foi posto termo ao governo do Partido Social-Democrata, após quase 50 anos no poder. A história da obra gira em torno de uma família que se prepara para o casamento de Monika. O pai, Egerman, um intelectual sexagenário e amargo, exprime descontentamento com a escolha da filha para marido.
Ao JPN, Pedro Mexia conta que o seu desejo de escrever uma peça baseada na década de 70 foi visto como algo “estranhíssimo” por algumas pessoas, mas não por Nuno Cardoso. Nessa medida, o autor salienta a sintonia entre ambos.
Na década de 70, “falava-se muito da Suécia, por causa do sistema politico e social e por ser um país avançado, pacífico e progressista”, relata o também poeta e crítico literário e de cinema ao JPN. Além disso, “havia um grande impacto da cultura sueca, nomeadamente do cinema, do teatro, da música, dos desportistas suecos”, enumera. Desta forma, Mexia pressentia a Suécia como um tipo de “paraíso europeu“, o que hoje já não é a realidade de país algum.
Apesar da ação decorrer num cenário de eleições, à altura vencidas pelo Partido do Centro, uma coligação de centristas, liberais e conservadores, o autor garante que “Suécia” “não é uma peça política, muito menos uma peça de propaganda”.
Nuno Cardoso concorda. Para o diretor artístico do TNSJ, “Suécia“ é uma peça na qual se discute a ideia de futuro, o fim das ilusões e das boas intenções. Para o encenador, além de se fazer um ponto de situação, dado os quase 50 anos da revolução de 25 de Abril, “a peça é sobre todos nós, seja na Suécia seja aqui”, comentou à margem do ensaio de imprensa a que o JPN assistiu.
“A peça é sobre o ser humano, sobre as nossas inquietações em vários pontos da vida, sobre as nossas relações, sobre como é que os nossos estados de alma, os nossos penhascos nos levam a olhar para uma data de coisas”, completou. No desenrolar da peça, há lugar a vários desentendimentos, mas o encenador garante que a trama tem um final feliz: “Só depende da ideia que se tem sobre felicidade”, rematou.
“O texto é meu, mas o espetáculo é do Nuno”, sublinha Pedro Mexia, que adianta que a versão final do espetáculo é diferente da primeira versão do texto: é muito mais uma peça sobre a família do que era. Houve também algumas alterações seguindo a intuição de Nuno Cardoso, das quais destaca o trabalho em equipa e a importância do coletivo: “vamo-nos ajustando uns aos outros”.
Sobre o trabalho em conjunto, Nuno Cardoso expressou satisfação por colaborar com o dramaturgo que “tem uma imensa delicadeza e ideias muito claras” e ao mesmo tempo “é tolerante com as propostas”. O encenador sublinha também que, neste meio que envolve lados políticos muitas vezes discrepantes, “a maior dádiva da democracia é poder confrontar e aprender com pessoas com pontos de vista diferentes”.
Para além dos atores residentes do Teatro Nacional São João – Joana Carvalho, Jorge Mota, Lisa Reis, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho e Pedro Frias -, o espetáculo conta ainda com António Fonseca no elenco.
“Suécia” está em cena no Teatro Nacional São João desde o dia 8 e até 25 de junho, à quarta-feira, quinta-feira e sábado às 19h00, sexta-feira às 21h00, e domingo às 16h00. O preço dos bilhetes varia entre os 7,50 e os 16 euros.
Editado por Filipa Silva