O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica regressa de 15 a 26 de maio com a sua 47.ª edição. Sob o tema "Trauma, Bravura e Fantasmagorias", o programa inclui vinte espetáculos, dos quais nove são internacionais. Gonçalo Amorim, diretor artístico do FITEI, espera um festival "de grande qualidade".

Gonçalo Amorim, a apresentar a programação do FITEI 24′. Foto: Camila Teixeira/JPN

O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) está de volta entre os dias 15 e 26 de maio, desta vez com um total de 20 espetáculos espalhados por 14 palcos, voltando a passar pelo Coliseu do Porto por onde já não andava há vários anos.

A 47.ª edição do FITEI vai contar com “nove espetáculos internacionais, seis coproduções e 14 estreias absolutas e/ou nacionais”, pode ler-se na nota de imprensa do evento que vai passar pelo Porto, Matosinhos, Gaia e Viana do Castelo.

O tema deste ano, “Trauma, Bravura e Fantasmagorias”, é um aprofundamento da edição do ano passado. Em declarações ao JPN à margem da apresentação do festival que decorreu esta terça-feira de manhã no Rivoli, Gonçalo Amorim, diretor artístico do FITEI, explica que a adição de “fantasmagorias” baseia-se no carácter “espiritual” e na “nebulosidade da memória” que as peças evocam: “Parece-me que dentro desta crise, uma espécie de crise perpétua, mas agudizada pelos traumas da crise migratória, da crise das democracias, da guerra, da crise ambiental, há também uma forte coragem. Uma bravura na forma como os artistas se apresentam em palco, com os seus corpos, com as suas palavras“.

Os 50 anos do 25 de Abril são, também, um tema de destaque nesta edição do FITEI. O evento arranca no dia 15 de maio com “Luta Armada”, uma coprodução FITEI com a companhia Hotel Europa, a estrear no Teatro do Campo Alegre. A peça aborda a forma como, na segunda metade do século XX, se recorria a ações violentas como forma de luta em Portugal.

Nos dias 16 e 17 de maio, estreia a peça internacional “Stabat Mater”, da brasileira Janaina Leite, no Grande Auditório do Rivoli. “Stabat Mater” destaca-se pelo uso da história da Virgem Maria para uma performance sobre o feminino. Nos mesmos dias, estreia “Manuela Rey Is In Da House”, de Fran Nuñez/Centro Dramático Galego, no Teatro Nacional São João. A peça propõe um “regresso triunfal post-mortem da atriz Manuela Rey, pode ler-se no programa.

A estreia internacional “María Isabel”, da artista chilena Ana Luz Ormazábal, vai ter lugar no Teatro Municipal de Matosinhos e recorda “uma investigação que nunca viu a luz do dia”. No Teatro do Campo Alegre, também a 16 e 17 de maio, estreia “O Navio Night”, de Marguerite Duras, uma história “sobre linguagem, sobre imagens, sobre escuridão e sobre desejo”.

“Trajetória”, do Teatro do Frio, passa pela CRL Central Elétrica, a 16 de maio, pelo Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, a 17 de maio e pelo Teatro Municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo, a 19 de maio. A peça audiovisual percorre uma linha imaginária através dos trilhos percorridos por Rodrigo Malvar (sonoplasta e performer) e Gonçalo Mota (cineasta e antropólogo) durante a pesquisa para o projeto. Trata-se de um espetáculo centrado no humano, nos depoimentos de homens e mulheres em determinados territórios”, explicou Gonçalo Amorim na apresentação do programa.

Esta edição do FITEI vai contar com um deepfake de Salazar com a peça “Old Cock”, de Jorge Andrade, nos dias 18 e 19 de maio no espaço da companhia mala voadora. A passar pela primeira vez pelo Coliseu do Porto, o festival leva ao espaço, a 18 de maio, “Irmã Palestina – 1001 Noites”, uma colaboração entre o Teatro O Bando e da Companhia Olga Roriz com a Banda Sinfónica Portuguesa.

Já o espetáculo “Amédée ou Como Desembaraçar-se”, de Ivo Alexandre, a estrear no Teatro Carlos Alberto a 18 e 19 de maio, “retrata bem as fantasmagorias”, segundo Gonçalo Amorim. Nos mesmos dias, no Auditório Municipal de Gaia, estreia “Another Rose”, de Sofia Santos Silva. “Matagal”, de Eduardo Breda, parte da Língua Gestual Portuguesa e trata-se de uma coprodução e estreia do FITEI no Teatro do Campo Alegre, também a 18 e 19 de maio.

“One Night at the Golden Bar” dá início à segunda semana do festival, no Pequeno Auditório do Rivoli. A peça de Alberto Cortés vai ser apresentada a 21 e 22 de maio. Nos mesmos dias, estreia a peça nacional “No Hay Banda”, de Martin Flores Cárdenas, no Teatro Municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo.

Uma peça de destaque nesta edição do FITEI é “A Possibilidade de Ternura”, da companhia La Re-Sentida, a estrear no Rivoli, a 23 de maio. Ao JPN, Gonçalo Amorim explica que esta peça sustenta que “para os jovens, homens, para o género masculino há a possibilidade da ternura, há a possibilidade de falarem das suas emoções”.

Ainda no âmbito da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, o FITEI recebe “Dona Pura e os Camaradas de Abril”, do SAARACI Coletivo Teatral, a ser apresentada no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, a 23 e 24 de maio. As mesmas datas vão ser marcadas pela apresentação de “Canto do Cisne”, de Nuno Cardoso, no Teatro Nacional São João.

“Sem Palavras”, de Marcio Abreu, trata-se de uma peça “de levantar o rabo da cadeira”, realça Gonçalo Amorim. O espetáculo, trazido pela Companhia Brasileira de Teatro, vai ser apresentado nos dias 24 e 25 de maio no Teatro Nacional São João. Nos mesmos dias, no Teatro Campo Alegre, Manuel Tur estreia “A Nossa Última Manhã Aqui”.

O FITEI conclui a sua 47.ª edição com “Jardim Fantástico”, da argentina Agostina Luz López. O “espetáculo delicado”, feito em parceria com Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio é lá apresentado a 25 e 26 de maio.

FITEI traz de volta atividades, encontros e workshops

Para além de trazer uma programação mais extensa, o FITEI aposta novamente na secção “Isto Não é uma Escola FITEI”, que engloba ações de formação, workshops e masterclasses de modo a promover a criatividade e envolvimento do público no teatro. As atividades são de acesso gratuito, mas é necessária uma inscrição prévia. Já o FITEI Aberto promove o encontro entre o público do festival e os artistas e o FITEI PRO promove encontros entre programadores e artistas, mesas redondas e showcases.

Apesar de o financiamento para a edição de 2025 não ser garantido, Gonçalo Amorim, diretor artístico do FITEI há quase dez anos, está concentrado na edição presente e espera um evento de “grande qualidade”: “É muito importante para nós também perceber que conseguimos ter esta importância. O FITEI é uma porta de entrada aqui na Europa também e é um festival de qualidade, de enorme qualidade. De enorme prestígio internacional”, remata.

Editado por Filipa Silva