Esta quarta-feira (27), o Teatro Nacional São João abriu portas e convidou o público para visitas guiadas gratuitas. Com o objetivo de aproximar o público do teatro, desvendaram-se os bastidores.

Detalhes do teto que cobre o interior da sala de espetáculos do TNSJ. Foto: Carlota Nery/ JPN.

No dia em que se celebra o Dia Mundial do Teatro (27), os bastidores do Teatro Nacional São João abriram portas. O público pôde desfrutar de um olhar mais íntimo e atento do edifício centenário projetado por Marques da Silva.

As visitas guiadas são uma iniciativa do TNSJ, que visam incentivar uma relação mais estreita entre o teatro e o seu público. Usualmente, têm um custo de 10 euros, mas, desta vez, integrando o programa de festejos do Dia Mundial do Teatro, a entrada foi gratuita.

Do palco aos bastidores, a visita foi guiada por Rosalina Babo. Cada sala tornou-se um espaço vivo, através das explicações e histórias que o preenchem. Desvendou-se o salão nobre, o terraço, a caixa de palco, a sala de figurinos, os camarins, o fosso de orquestra e, por fim, a sala principal.

Rosalina Babo, que trabalha na instituição desde 1997, recorda que as visitas guiadas são uma tradição com muitos anos no teatro Nacional São João. “A intenção é dar a conhecer não só o interior, não só o edifício, mas acima de tudo o que se faz cá dentro, bastidores, a produção do espetáculo, como é que funciona a caixa de palco”, conta ao JPN. Assim, através de uma interação mais pessoal, pretende-se que haja uma maior “vontade” nas pessoas que visitam o teatro “para virem assistir a espetáculos”.

O teatro quando abriu, em 1902, era essencialmente uma casa de ópera. Depois de um incêndio, em 1908, foi aberto um concurso público para decidir quem seria o arquiteto responsável pela reconstrução, financiado por dinheiro privado. A obra acabou por ser projetada por José Marques da Silva, que apesar de ter aproveitado a estrutura anterior, deu-lhe uma nova vida que até hoje se mantém.

Todo o espaço despertou o fascínio de Eduardo Nunes, enquanto visitante e estudante de teatro. Uma vez que o teatro detém um “nome prestigiado”, afirma que sonha um dia vir a pisar o palco do São João. Para o jovem ator, observar o teatro desta perspetiva é compreender as suas “raízes”. Mais do que “ver o que o público vê”, compreendem-se outras camadas como a da produção, refere. Por isso, considera que esta interação com o TNSJ, o aproxima do teatro a um “nível profundo”. Já para Carlos, professor de Direito, o que mais fascinou foram as musas que preenchem o interior da sala de espetáculos.

Numa visita guiada com quase 30 pessoas, nem os espaços mais pequenos e estreitos impediram a curiosidade. No caso da caixa de palco, Rosalina Babo equiparou o seu funcionamento a um navio antigo. Por entre cordas, varas, motores, cabos e roldanas, toda a logística de palco acontece a 29 metros de altura. Já a sala de espetáculos têm outras referências: o Olimpo grego. Francisca Babo menciona que a estrutura é muito inspirada na Grécia Antiga e nas suas arenas.

Apesar de toda a estrutura e arquitetura continuarem preservadas, o intuito de ir ao teatro alterou-se com o passar do tempo. Como Francisca Babo explica, antes as pessoas iam ao teatro “para verem e serem vistas”, e daí haverem camarotes laterais ligeiramente inclinados para a plateia. Esses lugares, que eram antes desejados e invejados pela sua ostentação e riqueza, hoje em dia, raramente, são ocupados pelo pouca visibilidade que têm para o palco. O que antes era um espaço onde não existia “cruzamento de classes”, como referiu Francisca Babo, é hoje um centro de diversidade que celebra a cultura.

Além de visitas guiadas pelos bastidores do TNSJ e do Mosteiro de São Bento da Vitória, o programa de celebração do Dia Mundial do Teatro incluiu ainda um ensaio técnico aberto ao público da peça “Fado Alexandrino” – a próxima grande produção do TNSJ que chega ao palco a 5 de abril -, a leitura de textos de Luís Vaz de Camões à varanda da Livraria Lello e ainda, à noite, a leitura encenada de “Crepúsculo” no Teatro Carlos Alberto.

Editado por Filipa Silva