Encenado por Susanne Kennedy, “Angela (a strange loop)” chega este fim de semana (15 e 16) ao Teatro Nacional São João, no Porto. A encenadora alemã, distinguida como uma das vozes mais originais do teatro contemporâneo, estreia-se em Portugal com a história distópica de uma influencer das redes sociais.

Angela (a strange loop)

Após ter passado pela Europa e pela América latina, “Angela (a strange loop)” passa por Portugal esta sexta-feira (15) e sábado (16), no Teatro Nacional São João. Foto: TNSJ/D.R.

Após ter passado pela Europa e pela América latina, “Angela (a strange loop)” estreia esta sexta-feira (15) e sábado (16) em Portugal, no Teatro Nacional São João (TNSJ). Em palco, uma história distópica sobre uma influencer das redes sociais que faz uma reflexão sobre o que significa ser humano hoje.

Com uma estética próxima da ficção científica, a peça combina animação, vídeo, música, silêncio e teatro, criando um ambiente onde o sonho e a realidade se fundem. O espaço cénico do artista visual Markus Selg aparece como um segundo protagonista.

A tecnologia foi a principal aposta na peça, pois, como Susanne Kennedy, a encenadora, refere, “toda a realidade é virtual. O teatro é um lugar onde se simula o real e se manipulam as nossas perceções”. É, então, “através de um espetáculo multimédia labiríntico e em permanente transformação, que o espectador é levado a mergulhar no abismo desta personagem [Angela]”, lê-se no programa de sala da peça.

O JPN assistiu, no ensaio geral, à evolução “estranha” da protagonista. A peça inicia-se com uma breve introdução que explica a estrutura tripartida da história: “negrito”, “albedo” e “rubedo”.

Angela debate-se com uma doença misteriosa que está a espalhar-se pelo seu interior. Isso faz com que a sua visão do mundo mude e, por isso, tudo o que pensa, sonha e ouve manifesta-se também fora dela. O cenário, que pouco a pouco desconstrói-se, acompanha as suas mutações e os seus sintomas.

“No palco, há coisas muito básicas que reconhecemos, como uma mesa e duas cadeiras. Parece uma situação muito clássica: há uma cama, parece uma situação muito clássica. Há um quarto, parece haver um quarto, mas trabalhamos no facto de estas coisas, aparentemente normais, começarem a desintegrar-se de certa forma. Portanto, é uma questão sobre a realidade, o que é a realidade e como é que a definimos”, revela a encenadora num vídeo de divulgação da peça.

À medida que a ação se desenrola, o espectador acompanha o impacto que as redes sociais têm na personagem e como isso se reflete nas atitudes, comportamentos e relacionamentos com os outros e consigo própria. Também se assiste ao choque entre o verdadeiro bem-estar de Angela e o que transmite aos seus seguidores nas redes sociais.

Susanne Kennedy descreve a personagem principal como “uma daquelas tik tokers, youtubers que se podem encontrar online”. A encenadora acrescenta que, nesta peça, analisou “como é que as mulheres se retratam ou estão a ser retratadas online, o que significa ser autêntico, o que significa mostrar a sua vida desta forma, até onde vai e mostra as suas fraquezas, os seus pormenores mais íntimos online”.

Nesta peça enigmática, os silêncios são trabalhados e, de repente, “a linguagem começa a tornar-se algo muito estranho e depois começamos a questionar-nos sobre situações e momentos que normalmente tomamos por garantidos. Tentamos sempre encontrar, procurar, o meio-termo para que as coisas pareçam encaixar, mas na verdade não encaixam. Para que algo possa abrir o espaço, mover para o espaço intermédio, começamos a sentirmo-nos desconfortáveis ou começamos a não confiarmos nos nossos próprios sentidos ou começamos a fazer perguntas”, sublinhou Kennedy.

A peça, que vai estar em exibição até sábado (16), no Teatro Nacional São João, conta com os atores Diamanda La Berge Dramm, Dominic Santia, Ixchel Mendoza Hernández, Kate Strong e Tarren Johnson.

Os bilhetes variam entre os sete os dezasseis euros. No espetáculo é utilizado a língua inglesa, que é acompanhada por legendas em português.

É produzida pela Ultraworld Productions e coproduzida por Wiener Festwochen (Áustria), Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas), Holland Festival (Amesterdão), Festival D’Avignon (França), Festival D’Automne À Paris & Odéon – Théâtre de L’Europe (França), National Theatre Drama/Prague Crossroads Festival (República Checa), Romaeuropa Festival (Itália), Volksbuhne Am Rosa-Luxemburg-Platz (Berlim) e pelo Teatro Nacional São João.

Editado por Filipa Silva