Pouco mais de um mês depois de ter comemorado 40 anos de atividade, a companhia de teatro Seiva Trupe foi despejada, pela Câmara do Porto (CMP), do Teatro do Campo Alegre (TCA), espaço no qual residia desde o ano 2000.
Tudo aconteceu na madrugada desta quinta-feira, por causa de um incumprimento no pagamento de uma dívida. Por volta das 01h, já depois de os elementos da Seiva Trupe terem abandonado as instalações, nas quais têm vindo a preparar uma peça, a CMP procedeu à troca dos canhões das fechaduras, em específico das portas de acesso aos escritórios.
Num esclarecimento enviado à Agência Lusa, a autarquia refere que entendeu que, “enquanto proprietária do TCA, esta desocupação coerciva se impõe e que cumpre, inclusive, com elementares princípios de justiça social”.
Em dia de aniversário havia confiança
Em setembro passado, na sequência do 40.º aniversário da Seiva Trupe, Júlio Cardoso, um dos fundadores e diretor artístico da companhia, admitia, ao JPN, não deixar de “lutar pela sobrevivência”: “Vamos dar a volta por cima disto tudo e voltar a ser a companhia que fomos, que sempre foi o orgulho do Porto e do nosso país”, afirmava.
O desenrolar dos acontecimentos
O contexto explica-se da seguinte forma: em fevereiro de 2000, a Seiva Trupe assinara um contrato com a Fundação Ciência e Desenvolvimento (FCD), que previa que a companhia de teatro se tornasse a companhia residente do TCA, até 31 de Dezembro de 2014. No entanto, em março de 2011, a dívida acumulada por parte da Seiva Trupe já ascendia a 121 mil euros, além dos juros de 44 mil euros.
Segundo a CMP, passados alguns meses, a companhia amitiu a existência de uma “dívida de 50 mil euros, comprometendo-se a pagá-la em 36 prestações mensais, tendo a FCD abdicado do diferencial, ou seja, de 115.646 euros”. Uma passagem importante dessa adenda ao contrato referia, todavia, que “o incumprimento de qualquer pagamento teria como efeito a imediata cessação do contrato e o vencimento imediato de todas as prestações vincendas”.
A verdade é que, até novembro de 2012, não houve qualquer problema no pagamento das mensalidades estipuladas, mas depois “começaram a verificar-se atrasos sucessivos e recorrentes”, revela a autarquia. A partir daí, a Seiva Trupe foi “interpelada por parte da FCD, com vista ao pagamento, tendo sido dado prazo de pagamento até 18 de Setembro”. Visto que este não foi cumprido, a CMP notificou a companhia da ordem de saída e vencimento imediato de todas as prestações até terça-feira, resultando, então, no despejo do grupo das instalações do TCA.