Há poucos dias atrás aconteceu algo de inédito no Ensino Superior português: foi eleita a primeira comissão de trabalhadores alguma vez existente no setor. O pioneirismo coube à Universidade do Porto (UP) e à lista “Juntos fazemos a UP”, que foi aprovada por grande parte das pessoas que fazem parte da instituição.

“A nossa primeira reação foi de muito orgulho. Orgulho por tudo: por ser a nossa universidade, por sermos os primeiros, por termos uma atitude construtiva, por não nos termos socorrido de máquinas sindicais nem de máquinas partidárias, dependendo, apenas e só, da vontade dos trabalhadores que se uniram”.

Esta resposta de Maria João Cardoso, carregada de orgulho pelo feito alcançado, confirma a postura da representante do movimento, demonstrada logo no início da conversa com o JPN: “-Obrigado pela disponibilidade para falarmos, Maria João Cardoso…”, “-Ora essa! Para falar sobre a UP e para defender a UP eu estou sempre disponível!”.

Do professor ao assistente

Com o número de trabalhadores que compõem a UP, a CT era obrigada, por lei, a eleger entre sete a 11 elementos. “Escolhemos eleger 11 elementos, para ter o máximo de representatividade. Mas com 14 escolas, mais os serviços partilhados e os SASUP (Serviços de Ação Social), nós não poderíamos ter na Comissão gente de todo o lado”, diz Maria João Cardoso, corrigindo informações veiculadas por outros órgãos de comunicação, que indicavam uma representatividade absoluta da CT.

Ainda assim, o órgão é composto por representantes de nove faculdades/serviços da UP, além de mais alguns representados pelos 11 elementos suplentes da CT. No entanto, também houve preocupação em incluir, na equipa, o máximo de categorias profissionais. “Temos desde o professor catedrático ao assistente operacional”, revela Maria João, ela própria técnica de informática na Faculdade de Economia (FEP).

Esta espécie de espírito competitivo e aguerrido torna-se mais compreensível quando se começa a falar do propósito da Comissão de Trabalhadores (CT) da UP. Formada por 11 elementos, “como uma equipa de futebol”, quer marcar um único “golo”: “Contribuir para a melhoria das condições de todos os trabalhadores da Universidade do Porto”.

Efeito placebo

A verdade é que, agora, os adeptos desta equipa (os trabalhadores da UP) andam mais animados. Quem o diz é Maria João, já uma espécie de “capitã”: “Isto tem um bocadinho de efeito placebo. Só o simples facto de as pessoas sentirem que têm representação já melhora muito a disposição. Tenho visto muito isso nos últimos dias. Ainda não fizemos nada, nem temos secretárias para nos sentarmos e já temos uma gaveta cheia de situações para resolver”.

Entre elas estão aquelas que a lista, antes de ser eleita, mencionava no seu manifesto [PDF]. “Defendemos a autonomia das escolas da UP. Cada escola tem as suas situações específicas e é democrático que sejam elas a escolherem quem as dirige. Por outro lado, estamos a acalmar os trabalhadores que foram afetos a serviços partilhados e que, neste momento, estão muito confusos e desmotivados. Não queremos acabar com estes serviços, que são extremamente úteis, mas vamos tentar que tenham uma organização participada e que quem faz parte deles esteja motivado”, refere Maria João Cardoso.

Inicia-se agora o “campeonato” da Comissão de Trabalhadores da Universidade do Porto. “Prognósticos só no fim do jogo”.