Duas equipas a atravessar o melhor momento da temporada. FC Porto e Juventus (19h45, SportTV 1) defrontam-se esta quarta-feira, em jogo relativo à primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Os dragões vêm de seis vitórias consecutivas para o campeonato. A história diz mesmo que não sofreram qualquer derrota nos últimos seis jogos em casa ante equipas italianas. Nuno Espírito Santo tem a equipa na máxima força e deve escalar Francisco Soares no onze. O avançado brasileiro nunca jogou as competições europeias e pode estrear-se na montra da Champions esta quarta-feira.

Seja com um ou dois dianteiros, valerá muito mais “o plano estratégico traçado para travar as maiores forças do adversário e explorar as suas maiores debilidades”, salienta ao JPN Rui Malheiro. O comentador do “Grande Área” da RTP 3 admite que Nuno pode partir do 4-4-2 observado nos últimos encontros, mas não descarta mudanças na tática com o decurso da partida. Haverá, isso sim, uma preocupação maior “com a qualidade do colectivo do que com as individualidades” da Juventus, sugere.

Fuga ao típico cinismo transalpino

Vantagem confortável no topo da Serie A e três vitórias forasteiras nas competições europeias em 2016/17. A Juventus é mesmo apontada por muitos como favorita a estar na final de Cardiff. Para o duelo com os dragões, a pentacampeã italiana resolveu algumas contrariedades na defesa. Andrea Barzagli e Giorgio Chiellini recuperaram de lesões musculares e viajaram para o Porto, tal como Miralem Pjanić. Mas nem tudo são rosas na linha defensiva “bianconera”. Bonucci foi multado pelo clube depois de ter discutido com Massimiliano Allegri e não vai a jogo. Resta como alternativa o jovem Daniele Rugani. E, claro, perceber se a tão comentada ausência de Buffon não passará de mera especulação.

E por falar em setor defensivo, será a Juventus o maior representante do pragmatismo associado às equipas transalpinas? “Esqueçam tudo isso”, atira Rui Malheiro. “É uma equipa que gosta de assumir um papel dominador e de controlar o jogo no meio-campo adversário, variando a circulação entre os três corredores e alternando com extrema facilidade uma construção curta e apoiada com uma construção mais longa”, analisa o colunista do jornal “Record”.

Sem bola, a reação à perda é marca indelével do conjunto italiano. “É capaz de alternar uma pressão alta com uma pressão mais média-baixa”, na qual os jogadores ficam mais próximos, para depois saírem “com sagacidade para o contragolpe ou para o ataque organizado”, explica Malheiro. De uma ponta à outra, a “Vecchia Signora” está recheada de qualidade em todos os setores. O analista destaca uma dupla de centrais que “busca tanto a irredutibilidade nas ações defensivas como as saídas para iniciativas ofensivas”, a propensão ofensiva dos laterais e o “critério e qualidade na construção” dos médios-centro. Além da “corrosiva” dupla Dybala-Higuaín no eixo do ataque.

Combater a história

Maio de 1984, Basileia. Final da extinta Taça das Taças. O primeiro embate entre FC Porto e Juventus foi bem a doer. Os portugueses saíram derrotados por 2-1, com Vignola e Boniek a anular o tento de Sousa. Contudo, o deslize não apagou “um ano carregado de entusiasmo por ser a primeira final europeia do clube”, diz ao JPN João Nuno Coelho. O sociólogo recorda que os dragões “eram autênticos desconhecidos” e quase todos de nacionalidade portuguesa. Realidade pouco equiparada ao futebol dos dias de hoje.

As equipas reencontraram-se em 2001, para a fase de grupos da Liga dos Campeões. João Nuno Coelho explica que, nesta altura, o Porto já “não era tão desconhecido”, pois tinha ganho a Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1987. Já a Juventus mantinha a reputação de uma das melhores equipas da Europa, “talvez depois do Real Madrid”, sugere. Facto é que, no início do século, havia duas fases de grupos, “o que não fazia sentido devido ao elevado número de jogos que as equipas estavam obrigadas a realizar”, diz.

Agora, 16 anos volvidos, cabe aos portugueses “manter a segurança defensiva, tirar partido do fator casa e impôr respeito a nível ofensivo”, refere João Nuno Coelho. Frente a um adversário superior na qualidade individual, o lado estratégico pode ter uma importância acrescida, realça Rui Malheiro. “Nuno Espírito Santo mostrou, ante Roma, Benfica ou Sporting, a sua perspicácia e detalhe na análise dos adversários”, recorda o analista.

“Não nos sentimos inferiores a ninguém”

Nuno Espírito Santo espera um Porto “preparado para competir”. Foto: FC Porto

Nuno Espírito Santo perspetiva um “grande jogo entre duas das 16 melhores equipas da Europa. É a Champions League, um grande adversário e um FC Porto preparado para competir”, salientou o técnico portista em conferência de imprensa.

Perante os jornalistas, o treinador natural de São Tomé e Princípe arriscou uma previsão para o alinhamento da Juventus nesta quarta. “Se disser que vai jogar, Mandzukic, Dybala, Higuaín, Cuadrado, Pjanic, Khedira, Bonucci, Chiellini, Alex Sandro, Lichtsteiner, Buffon, acho que é esse o onze”, disse Nuno Espírito Santo aos jornalistas. Muito embora haja opções suficientes para fazer “outra equipa com alternativas”, comentou.

O histórico frente ao tetracampeão italiano é negativo, mas Nuno promete uma equipa à altura dos acontecimentos. “Não devemos desprezar ninguém, nem nos sentimos inferiores a ninguém. Respeitamos o nosso adversário e estamos preparados para competir no máximo das nossas forças”, comentou.

Apesar de nunca ter derrotado a “Vecchia Signora”, o FC Porto já deixou, esta época, a Roma pelo caminho. “Sabemos que amanhã é a continuação de um trabalho que, em relação à Champions, começámos em agosto, num play-off que passamos de forma meritória. Tivemos uma fase de grupos complicada, mas conseguimos ultrapassá-la”, observou sobre a caminhada dos dragões na liga milionária.

“É importante marcar”

Massimiliano Allegri confirmou que Bonucci não joga no Dragão. Foto: Flickr

Sem meias medidas, Massimiliano Allegri anunciou que Bonucci está fora do combate desta quarta-feira. Em causa estará um desentendimento do central com o treinador no último jogo para a Serie A, frente ao Palermo. “Amanhã vai para a bancada. Não faz parte da minha maneira de ser, foi uma falta de respeito em relação a mim e aos adeptos. Foi um falta de responsabilidade, vai pagar uma multa. Ele percebeu o que se passou”, argumentou o treinador da Juventus em conferência de imprensa.

Contudo, a situação parece estar encerrada. “Eu expliquei-lhe a minha decisão e ele percebeu o que se passou, é uma situação resolvida. Não é sequer um caso”, esclareceu. Allegri garante uma equipa concentrada, pois o FC Porto é “um adversário difícil, habituado à Liga dos Campeões, e que tem um treinador ambicioso e sofre poucos golos”, comentou.

O italiano confirmou a titularidade de Pjanić, Cuadrado, Dybala, Mandžukić e Higuaín. Prometeu também uma equipa “em ótimas condições físicas e mentais”. “Esta é uma competição que dá grande entusiasmo, fascínio e motiva muito. Quando se chega a estes jogos, cresce o entusiasmo e a adrenalina e é precisa coragem”, resumiu o técnico da “Vecchia Signora”.

Memórias positivas com juiz alemão

Felix Brych foi nomeado pela UEFA para a receção do FC Porto à Juventus. O árbitro alemão tem 41 anos e já dirigiu quatro jogos europeus dos dragões na liga milionária. Em nenhum deles os portistas perderam: triunfos sobre APOEL (2-1, 2009), Shakhtar Donetsk (2-1, 2011) e Bilbau (0-2, 2014), além de um empate na visita ao Dynamo Kyiv (2-2, 2015).

Com a Juventus, Brych cruzou-se nas duas edições anteriores da Liga dos Campeões. Os “bianconeri” saíram derrotados de Madrid (1-0, 2014), tendo depois vencido em casa o Manchester City (1-0, 2015). Internacional desde 2007, o juiz alemão já esteve em diversas fases finais de competições internacionais, tendo apitado a final da Liga Europa em 2014, entre o Benfica e o Sevilha. Nos últimos meses dirigiu o Portugal-Polónia do Euro 2016 e o Benfica-Nápoles, a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

Artigo editado por Filipa Silva