Orfeu Bertolami, físico teórico e professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, deu início à sessão do Fórum do Futuro desta quinta-feira com a leitura de um texto, em tom descontraído, com o objetivo de “criar o ambiente teatral necessário” para a intervenção que se seguia. Nela, David Shoemaker, astrofísico norte-americano, investigador principal no MIT Kavli Institute, explicaria as conclusões de anos de trabalho do grupo LIGO em torno das ondas gravitacionais.

Já em 1915, Albert Einstein, na sua Teoria da Relatividade Geral, defendia a existência de perturbações que se propagavam como ondas no espaço e no tempo. Porém, só em 2015 é que as ondas gravitacionais foram demonstradas pela primeira vez de forma fidedigna e replicável. Desde então, já foi possível detetá-las mais quatro vezes.

Na origem de tudo isto está Rainer Weiss, que nos anos 70 percebeu que o detetor perfeito para captar estas ondas seria o interferómetro de laser, a máquina mais sensível construída pelo Homem, e apostou em criar um exemplar. David Shoemaker foi um dos cientistas envolvidos na criação do primeiro equipamento deste tipo.

A quarta deteção ocorreu em setembro deste ano. Pela primeira vez, a equipa do detetor LIGO/VIRGO captou estas ondas através de três interferómetros lasers diferentes e em simultâneo.

O detetor LIGO foi criado para tornar possível a audição das ondas gravitacionais. Apesar destas serem oscilações no espaço-tempo e não ondas sonoras propriamente ditas, a frequência das mesmas é percetível ao ouvido humano.

Shoemaker afirmou que “estas ondas que produzem um som sem o contributo de Einstein eram apenas barulho sem qualquer significado para a física”, mas como Einstein já tinha defendido a existência destas perturbações conseguimos perceber que estes segundos de som que nos são proporcionados por estes acontecimentos são mensagens com relevo para o mundo da física.

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip Thorne são os três mentores de todo o projeto LIGO, que lhes valeu o Prémio Nobel da Física de 2017. Apesar de só estes três investigadores terem sido destinguidos a equipa por detrás destas descobertas é composta por mais de 100 pessoas.

Shoemaker sublinhou assim, perante uma plateia repleta, que a Teoria da Relatividade Geral de Einstein está oficialmente confirmada e que já é possível captar e gravar som de dois buracos negros a colidirem a mais mil milhões de anos-luz de distância, produzindo ondas gravitacionais.

No futuro, a LIGO tem como objetivos conseguir explorar de forma plena os seus observatórios atuais para conseguir ainda melhores resultados e em última instância conseguir detetores ainda mais sensíveis do que aqueles que possuem.

É esperado o lançamento da missão LISA em 2030 que consistirá em três satélites colocados no espaço os quais vão permitir ver não só buracos negros como também super buracos negros e o interior dos planetas. Esta missão irá ajudar a equipa da LIGO a evoluir os seus estudos para o próximo nível.

Em forma de conclusão Schoemaker diz que “está a aprender muito mais de astrofísica agora que está verdadeiramente a fazer astrofísica”.

O Fórum do Futuro, uma organização da Câmara Municipal do Porto, decorre desde domingo e termina este sábado. Até lá ainda terá muito para debater: da extinção voluntária da humanidade (sexta, 19h00, Galeria da Biodiversidade) ao passado, presente e futuro da violência (sábado, 21h00, Rivoli), entre outros debates, performances e concertos para conferir no programa do evento.

Artigo editado por Filipa Silva