Três estudantes da Universidade do Porto (UP) venceram o Prémio Cidadania Ativa 2022. Esta distinção visa destacar estudantes que, ao longo do ano, através das suas atividades extracurriculares, mostraram ser um “exemplo de cidadania”.

O Prémio Cidadania Ativa foi criado em 2012, pela UP, com o intuito de homenagear, anualmente, estudantes que se distingam pelo seu trabalho e papel ativo na comunidade. O Galardão está dividido em cinco vertentes: Humanitária/Solidária; Empreendedorismo; Pedagógica; Desporto, Saúde e Bem-estar; e Defesa do Ambiente.

Na edição deste ano, a instituição premiou uma futura farmacêutica, empenhada em assegurar a medicação daqueles que mais necessitam; uma médica veterinária, que luta pela defesa e proteção dos animais e uma médica focada na saúde dos artistas . O JPN falou com as duas primeiras, para conhecer melhor os projetos nas quais estão envolvidas.

A promoção do acesso aos cuidados de saúde

Catarina Moreira, estudante do 5º ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da FFUP Foto: Linkedin | Catarina Moreira

Catarina Moreira, estudante do 5.º ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da UP (FFUP), venceu o prémio na Vertente Humana ou Solidária.

A jovem confessa, em declarações ao JPN, que foi “parar ao curso de para-quedas”, mas considera que, hoje, não podia estar mais satisfeita com a sua decisão e garante que é isto que quer fazer “para o resto da vida”.

É a atual presidente da Associação Cura+, fundada em 2015 por estudantes da FFUP, que tem como objetivo “chamar a atenção das pessoas para erros que cometem com a medicação, para a prevenção e para o tratamento de doenças“.

Catarina entrou para a associação em março de 2018, pela “curiosidade de saber como era o ambiente numa farmácia”. Inicialmente, integrou o projeto “Porto com + Saúde”, que decorre diretamente nas farmácias com o objetivo de angariar fundos para pagar a medicação a doentes crónicos. “Na altura, senti que era uma causa que tinha tudo a ver com o meu curso e com o que eu ia fazer no futuro mas não tinha noção que era um problema tão grande, nunca me passou pela cabeça”, confessa.

Para além do “Porto com + Saúde”, a ação de educação das pessoas e do aumento da literacia em saúde é feita em mais dois projetos: “Polimedicação + Segura” e a “Geração Saudável”. O primeiro é focado na promoção do uso correto e responsável de medicamentos por parte da população mais envelhecida e o segundo direcionado para a educação para a saúde dos mais jovens e atuar de forma preventiva.

Está neste momento a terminar o mestrado, mas ainda não tem certezas quanto ao rumo que quer seguir na sua vida profissional. “Eu gosto de Ciências Farmacêuticas em toda a sua extensão, o que é um problema porque não me deixa escolher um sitio só”. No entanto, garante que, independentemente da vertente que escolher, terá de estar relacionado com “esta educação para a saúde, com projetos que me permitam pôr em prática aquilo que eu aprendi aqui e aquilo que eu sei enquanto farmacêutica”.

Foi uma colega que a candidatou a este prémio e, quando soube que tinha vencido, foi “uma excelente surpresa”. “Sinto que foi um reconhecimento do meu trabalho na associação durante o ano passado, mas para mim foi mais do que isso, por ter sido uma candidatura feita por uma colega minha, apoiada pela minha equipa e isso transmite que eu os inspirei, eu nem tinha essa noção que tinha tido esse papel”.

Está manifestamente “orgulhosa” do trabalho que tem desenvolvido, juntamente com toda a sua equipa e garante que a associação já faz parte da sua história e do seu percurso académico. “Foi tudo o que eu fui fazendo aqui e as experiências que fui tendo na associação que me fizeram perceber que eu quero ser farmacêutica, que eu gosto de Ciências farmacêuticas e que é isto que eu quero fazer para o resto da minha vida.

A luta pela defesa dos animais 

Sandra Cardoso, estudante do doutoramento em Ciências Veterinárias do ICBAS. Foto: Facebook | Sandra Duarte Cardoso

No âmbito da Defesa do Ambiente, o prémio foi atribuído a Sandra Cardoso, estudante do doutoramento em Ciências Veterinárias do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Tirou o curso de Comunicação e especializou-se em Comunicação Institucional, mais tarde concluiu a licenciatura em Medicina Veterinária e o consequente mestrado.

“Associei uma formação académica à outra para a persecução da organização que criei em 2017 – a SOS Animal”. Esta associação promove os direitos animais e ambientais e a proteção e salvaguarda dos ecossistemas e dos seus habitantes.

“A SOS Animal surge com a função de evoluir no sentido de algo que ainda não existia (e penso que não existe) em Portugal, uma vez que não é uma organização animalista, mas sim uma organização animalista e ambientalista”.

Em 2021, lançou o filme “Saudade”, com o objetivo de “alertar para a extinção das espécies e para a perda da biodiversidade”. Para isso, Sandra rumou ao Quénia para filmar as duas últimas rinocerontes brancas do norte existentes no mundo. O projeto foi amplamente premiado, nacional e internacionalmente.

Apesar de ainda não estar disponível em nenhuma plataforma, Sandra garante que está “a trabalhar nisso”. “Quisemos tivesse disponível na generalista, mas ainda não foi possível e andamos em negociação com a Netflix”, revela.

Para o futuro, ambiciona, a nível pessoal, terminar o doutoramento e, a nível profissional, lançar “um grande projeto a que nos estamos a dedicar fortemente”. Trata-se do primeiro santuário que alia o ambientalismo ao animalismo, em que que junta todos os animais num só santuário. Do ponto de vista institucional, está para breve o lançamento de um novo programa, intitulado “SOS Planeta”. Sandra confessa ainda a vontade de voltar a fazer o “À descoberta com…”. “Foi um programa com um nível de audiências enorme e recebemos muito feedback de como tocou nas pessoas”. O programa, emitido pela SIC, aborda questões tão pertinentes como as alterações climáticas, exploração dos animais, poluição de habitats e a exploração excessiva de recursos.

Confessa que “ser reconhecida é sempre muito bom”. “O maior presente que me podem dar é perceber que a causa e a missão à qual eu dediquei a minha vida tem reconhecimento”, diz. Acredita que “cada vez mais franjas da sociedade, neste caso na parte académica, reconhecem que o trabalho tem tido frutos e, por isso, acharam que era diga de ter reconhecimento mas pela missão e pelo trabalho que desempenho”.

A preocupação com a saúde dos artistas

Ana Zão, mestre em Medicina e estudante do programa doutoral em Investigação Clinica e em Serviços de Saúde da FMUP, venceu o prémio no campo do Empreendedorismo.

A estudante, com quem o JPN tentou sem sucesso falar, fundou, em 2020,o Centro Internacional de Medicina das Artes (CIMArt) – o primeiro Centro em Portugal dedicado à abordagem dos problemas de saúde dos músicos, bailarinos, atores e outros artistas de performance.

O centro dedica-se à “avaliação, tratamento e prevenção da dor ou lesões desenvolvidas pelos artistas (profissionais, amadores ou estudantes)” e ainda “avaliação e orientação de artistas sem dor ou lesões, que pretendam otimizar a performance e realizar programas de prevenção de lesão ou formação nesta área“, pode ler-se no site.

Ana é pianista e, como artista, reconhece a importância de existirem cuidados médicos centrados no artista. Nesse sentido que tem contribuído para o crescimento e afirmação da Medicina das Artes Performativas, através do desenvolvimento de programas de promoção da saúde dos artistas e novos programas de tratamento.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha