A época da Páscoa traz consigo a lembrança de mesas ricas em doces tradicionais, mas há um longo caminho a percorrer até estes chegarem às famílias. Na Confeitaria do Bolhão, espaço centenário da cidade, a data prepara-se antecipadamente.

É no número 339 da rua Formosa, junto ao histórico Mercado do Bolhão, que se desenha a emblemática fachada da Confeitaria do Bolhão, casa centenária do Porto, fundada em 1896.

À entrada, esta quarta-feira (27) de manhã, a agitação já era notória, com uma movimentação intensa de portugueses e estrangeiros a tentarem deslocar-se pelo estreito corredor que liga o balcão às mesas. 

É José Rodrigues, proprietário da confeitaria, quem recebe o JPN ao balcão, e nos informa de que a fornada de pães-de-ló do dia já foi feita. O cheiro a pão fresco invade os sentidos enquanto o responsável entra em contacto com a cozinha. Os ecos de vozes e os encontrões no corredor são interrompidos quando cruzamos a porta que nos leva à zona de fabrico. 

Ao descer as escadas, igualmente estreitas, chegamos ao espaço de onde saem os modelos que embelezam as montras lá em cima. 

O piso nota-se escorregadio, com rastos de farinha pelo chão, e o ar é abafado. É aqui que encontramos a equipa da confeitaria a tratar a massa. “De brioche”, esclarece Luís Gomes, o membro mais novo da cozinha. Tem 20 anos e trabalha no espaço há mais de meio ano. “Estaladinhos, croissants, lanches, tranças” são alguns dos produtos para os quais a massa será utilizada, enumerados por Luís.

Apesar da variedade, os protagonistas estão bem expostos aos nossos olhos: os pães-de-ló e os folares, dispostos em tabuleiros por cima da grande bancada, trazem o anúncio da Páscoa, uma das datas mais agitadas para o mundo da confeitaria.

Quando questionados sobre quem está responsável por fazer os doces tradicionais, o chefe Marco, adição recente da equipa, prontamente indica a dona Amélia. “É a mais antiga da casa, conhece os segredos”, conta-nos o chefe.

Amélia Pacheco trabalha na Confeitaria do Bolhão há dezanove anos. Entra na confeitaria às cinco, “cinco e vinte, mais ou menos”, e abandona o serviço “por volta das três horas”. “Às vezes quatro, não é? Quando há mais que fazer, uma pessoa tem que estar mais um bocado”, refere.

No entanto, na véspera de Páscoa permanecem no espaço até às “cinco, seis da tarde”, segundo dona Amélia.

Os pães-de-ló começam a ser preparados às seis da manhã. A massa, da qual saem, por dia, seis porções “de quilo” e “uns oito, quinze dos pequeninos”, conta com uma média de sessenta gemas de ovos na sua constituição. É feita de fresco “todos os dias”, e o tempo de cozedura ronda os trinta e cinco minutos para um pão-de-ló tradicional, e à volta de vinte para os mais pequenos. Quanto a segredos, “ficam na casa”, diz a sorrir a do na Amélia.

Na Páscoa, mais de uma centena são fabricados e, apesar da inflação, garante-nos a gerência, o preço manteve-se face a anos anteriores, sendo o quilo 16 euros e meio.

Quanto aos folares, “é só nesta época”, esclarece a pasteleira. “Nós já começámos a fazer há uma semana, mais ou menos, todos os dias se faz. É um produto que sai muito bem na casa”, refere Amélia. 

As encomendas são muitas, “é porque o artigo é bom”, sublinha a dona Amélia. Mas qual é o segredo? “Isso fica na casa”, remata a sorrir a pasteleira mais antiga da casa.

Editado por Filipa Silva