No âmbito do "Dia da Democracia", Rui Moreira e Francisco Assis participaram numa aula sobre democracia destinada a 600 alunos das escolas do concelho do Porto. Durante a sua intervenção, o deputado socialista considerou que "a escola pública falhou na formação para a cidadania". Os alunos ouvidos pelo JPN concordaram com o deputado socialista, o mesmo não acontece do lado dos professores.

A “Aula da Democracia” reuniu centenas de alunos no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota. Foto: Jaime Silva/JPN

Francisco Assis tem a convicção de que “a escola pública falhou na formação para a cidadania“. Em conversa com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, na última quarta-feira (10), o deputado socialista, apesar de reconhecer o sucesso da escola pública na alfabetização da sociedade, alertou para o “desapego à democracia” que diz existir entre os mais jovens.

A perda de popularidade do regime democrático foi também uma das questões abordadas por Rui Moreira durante a “Aula da Democracia” que reuniu centenas de alunos no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota. O autarca relembrou que “as democracias já foram populares”, numa altura em que “estava tudo uma grande confusão” e aparecia um “homem providencial” que prometia resolver os problemas.

Após a sessão, Francisco Assis referiu aos jornalistas que “as democracias exigem a adesão e a participação ativa das pessoas e essa adesão não é espontânea“. O socialista apelou a que seja discutida a necessidade do ensino dos valores democráticos nas escolas, “sem medo” de que possam dizer que querem “andar a doutrinar as pessoas”.

Francisco Assis afirma ainda que este é um entendimento partilhado por vários professores do ensino secundário. “Falo todos os dias com muita gente ligada ao ensino e eles próprios me transmitem esta preocupação“, revelou.

O cabeça de lista do Partido Socialista no Porto nas últimas eleições acredita que o aumento da participação no último ato eleitoral não significa uma maior consciência democrática. “Se as pessoas votarem mais em soluções que claramente não são democráticas, isso não é uma demonstração de apego, é de desapego“, constatou, referindo-se ao possível aumento da votação jovem em partidos populistas.

Alunos e professores querem trabalhar “consciência política” nas escolas

Não parece existir, no entanto, um consenso entre os professores que marcaram presença no auditório. Para Isabel Figueiredo, professora de Filosofia na Escola Secundária Garcia de Orta, “a escola deve repensar” o seu atual modelo. “Estamos demasiado preocupados com testes e exames e devíamos ter uma disciplina onde pudéssemos trabalhar a cidadania e a consciência política dos alunos“. Ao JPN, destacou, “com tristeza”, o aumento da adesão dos mais jovens à “extrema-direita”.

Arminda Freitas, professora de português na Escola Secundária Alexandre Herculano, tem uma opinião contrária à de Francisco Assis. Em declarações ao JPN, a docente recordou que “a educação cívica é trabalhada no âmbito da cidadania“, defendendo ainda que “depois cabe a cada um informar-se para desfazer os discursos populistas“.

Para os alunos ouvidos pelo JPN, é essencial aprender sobre o que é a democracia. António Monteiro, de 17 anos, admite que os jovens “não sabem descrever o que é a democracia”. Uma outra aluna de 17 anos da Escola Secundária Garcia de Orta que pediu para não ser identificada considerou “hipócrita” a proposta defendida pelo deputado do Partido Socialista. “[Tive] educação para a cidadania e, em vez de aprender sobre temas mais substanciais, tive a aprender educação sexual no 6.º ano“, explicou.

Relativamente à permeabilidade dos jovens a discursos populistas, Francisca Ferreira, aluna da mesma escola, refere que a linguagem utilizada pelos políticos dificulta a aproximação dos mais jovens à política. A terminar o ensino secundário, admite que não se sente representada na política, e, por isso, defende que “deveriam ser recrutadas mais pessoas jovens“.

Estes fatores, aliados à lacuna que diz existir no ensino, contribuem para que, na sua opinião, os partidos que apostam nas redes sociais para divulgar as propostas populistas consigam ganhar maior visibilidade entre os mais jovens. “O Chega é o partido que tem mais seguidores no TikTok, acho que isso diz tudo”, atirou.

O “Dia da Democracia”, uma iniciativa da Câmara Municipal do Porto e da Academia SEDES, tem como objetivo promover a democracia junto dos jovens.

Editado por Inês Pinto Pereira