Entrevista a Antero Braga- Livreiro "por acidente"- Livrarias não são apenas "postos de venda" de livros - Situação cultural no Porto é "miserável"Os portugueses lêem pouco? Não! Lêem mais hoje do que liam ont…

Os portugueses lêem pouco?

Não! Lêem mais hoje do que liam ontem. Isso é uma mentira terrível. As gerações actuais lêem mais do que a minha geração – eu sou um homem dos anos 60 – e eu melhor do que ninguém posso dizê-lo, porque tenho 38 anos de actividade como livreiro, sei perfeitamente o que se lia ontem e o que se lia hoje e quais são as diferenças. Se me disser que se devia ler mais, eu digo que sim. Está estudado e não sou eu que o digo: os países com maior índice de leitura são os que têm maior índice de desenvolvimento.

Qual é o papel do livro no dia-a-dia?

É aquilo que cada um de nós quiser que seja. O livro é fundamental no desenvolvimento dos povos. É mais fácil enganar um iletrado do que uma pessoa letrada. Por outro lado, o livro é um hábito. Isto de ler é um vício, pode ser uma necessidade, das benéficas, porque há outras necessidades que são perniciosas. Acho é que se investe pouco na questão de se poder ler mais. Era preciso imprimir um ritmo diferente, para na idade dos “porquês”, na pré-primária, preparar os jovens para que eles tomem o vício de ler, porque assim vão ser mais felizes, e obviamente vão ser mais competentes.

Detecta efeitos da globalização no que as pessoas lêem hoje?

Não gosto de dizer mal dos portugueses, mas a ideia que eu tenho é que aqui tudo o que vem de fora é sempre melhor do que o que é português, o que nem sempre é verdade. Não é só nos livros, é na pintura, na música e os portugueses aderem a isto de uma forma inusitada.

A que se deve essa valorização excessiva do que vem de fora?

Tem a ver com o “parolismo” nacional. O que é que um Lobo Antunes tem a dever a qualquer autor francês? O que é que a Agustina Bessa-Luís tem a dever a qualquer escritor mundial?

Que outras coisas se podem fazer para pôr as pessoas a ler mais?

Eu costumo dizer que entre ler nada e ler alguma coisa, prefiro que leiam alguma coisa mesmo que seja um jornal ou uma revista. O que era importante era que efectivamente se aproveitasse o facto de o português ser a quinta língua mais falada no mundo e se aproveitasse a ligação entre os milhões de pessoas que falam português.