O ex-presidente haitiano saiu do país a 29 de Fevereiro devido a uma revolta armada. Depois do exílio de dois meses e meio na Jamaica, Jean Bertrand Aristide viajou com a família para a África do Sul, país que lhe concedeu asilo político.

Já em solo africano, o ex-presidente haitiano agradeceu o acolhimento e sublinhou que a África vai ser o seu “o continente-mãe” e “domicílio temporário até regressar ao país”. Aquando da chegada de Aristide, segunda feira, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros sul-africano, Aziz Pahad, esclareceu que o governo decidiu acolher o ex-líder temporariamente “como forma de contribuir para a estabilização da situação no Haiti”.

Mas a oposição não partilha da opinião do vice-ministro. Douglas Gibson, porta-voz do principal partido da oposição, citado pela agência Reuters, defende que “o Haiti está fora da área de influência da África do Sul por isso [Aristide] deve ir para casa”. Para além disso, a oposição não concorda com o facto do Estado financiar a estadia do ex-líder e alega que “a África do Sul não é um país rico e por isso não pode permitir-se a gastar milhões” para o acolher.

Milan Rados, professor na Universidade do Porto e especialista em Relações Internacionais, considera o argumento “ridículo”, uma vez que “o país vai organizar o campeonato de futebol em 2010”. Por isso, “se há dinheiro para construir estádios de luxo, há dinheiro para dar asilo a uma pessoa que politicamente não pode estar segura no seu país”, explica.

Aristide manifestou desejo de regressar ao Haiti e afirmou que continua a ser o presidente democraticamente eleito. Para Milan Rados, esta atitude é normal, porque “todos os que perderam o poder querem voltar”. O professor acredita que “se houver oportunidade o ex-líder vai voltar”, mas duvida que seja reconhecido como presidente. “O povo ficou feliz quando Aristide partiu”, por isso “não parece que vá querer que ele volte a assumir o poder”. “Também não parece que os Estados Unidos queiram que ele volte, pois já estão a planear uma intervenção”, acrescenta.

Perfil do ex-presidente

Jean-Bertrand Aristide nasceu em 1953 e foi educado numa escola Católica e num Seminário. Foi ordenado padre em 1982 e tornou-se um forte apoiante da teoria de intervenção da igreja na solução de problemas sociais, tais como pobreza e opressão.

Tornou-se orador dos pobres e “advogado” da democracia até que a sua intervenção no campo da política começou a ser alvo de vários atentados, nos anos 80. Também a ordem religiosa que representava o condenou pela sua actuação política, acabando por expulsá-lo em 1988.

Aristide ganhou as eleições em 1990, mas em menos de um ano foi confrontado com um golpe de Estado que o obrigou a exilar-se. Recebeu o apoio dos EUA e conseguiu voltar ao poder, em 1994.

Em 1995, foi substituído por Rene Preval, porque estava proibido de exercer um segundo mandato consecutivo. Foi reeleito em 2000, numa votação muito contestada pela oposição e pelos observadores internacionais. A partir de então as crises sociais, políticas e económicas foram-se agravando até Fevereiro de 2004, aquando de uma nova revolta militar.

Andreia Parente

Foto: Embaixada do Haiti nos EUA